quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Militância Búdica


Texto enviado por Antônio Carlos Rocha (Hakuan)

“(...) encontramos um padre budista que eu tinha visto numa passeata de protesto alguns dias antes na frente do prédio do parlamento nacional japonês. Centenas de manifestantes se reuniram para protestar contra o envolvimento das Forças de Defesa japonesas na guerra do Iraque, exigindo a libertação dos reféns japoneses lá. No saguão do prédio as pessoas se amontoavam para ouvir os discursos políticos. Havia câmeras por toda parte. Outros grupos com seus próprios programas lutavam para obter exposição na mídia. Em meio a esse caos, discretamente posicionado na calçada da frente do prédio, Takeda Takao liderava alguns sacerdotes empunhando cornetas, tambores e bandeiras. A presença deles emprestava certa calma ao cenário tão carregado de energia.


“(...) Takeda nos contou que fazia parte da Nipponzan Myohoji, uma organização budista internacional fundada no início do século XX. Os monges e monjas dessa seita organizam longas caminhadas, cantando e batendo seus tambores em apelo à paz por todo o mundo, uma tática inspirada em Mahatma Gandhi. Uma vez por ano Takeda lidera uma vigília memorial e pela paz por quase mil e trezentos quilômetros e três meses de Tóquio até Hiroshima homenageando as vidas perdidas lá nos bombardeios atômicos de 1945.


“Perguntei como tinha se tornado um radical.


“- Não sou radical – ele interrompeu. – Isto é lógico e prático. Atos de violência perdem sempre. Os canais burocráticos são um labirinto infindável. O protesto pacífico é o único modo de mudar alguma coisa. A raiva gera mais raiva no mundo. Pessoas pacíficas criam um planeta pacífico.


“Os protestos de meados dos anos 1970 contra a construção do Aeroporto Internacional de Narita, a 64 quilômetros de Tóquio, fez Takeda chegar a essa conclusão. Ele tinha participado de manifestações defendendo os direitos dos horticultores de manterem as terras que o governo havia tomado. Em 1978 o aeroporto abriu mesmo assim, custando vidas humanas e terras produtivas. Num campo ao lado das cercas da pista de decolagem, a ordem Nipponzan Myohoji erigiu um pagode da paz que continua de pé, Takeda me disse.”


(Págs. 246 e 247 do livro Buda ou o desapego, de Perry Garfinkel, ed. Rocco.)


Obs. A Nipponzan Myohoji é uma linhagem do Budismo Nichiren, tem como base os ensinamentos do Sutra do Lótus e o Sagrado Mantra Namu Myou Hou Ren Gue Kyou.

Nenhum comentário: