quarta-feira, 11 de março de 2009

Tibete, um ano depois

Rodrigo Araujo Corrêa
(Professor e Jornalista)



10 de março é um dia especial para os tibetanos: marca o levante, em 1959, contra o domínio chinês no Tibete, invadido em 1950. Ano passado, milhares de cidadãos foram novamente às ruas em diversas partes do país manifestar seu descontentamento com a situação. A resposta do governo foi dura - como seria também em outras datas ao longo do ano.

Não faz muito, a ONG Tibetan Centre for Human Rights and Democracy (TCHRD) apresentou seu mais recente relatório anual sobre violações aos direitos humanos no Tibete, referente a 2008. Entre o saldo reportado, temos: mais de uma centena de tibetanos mortos em diferentes manifestações; 6500 prisões, e 190 condenações por períodos que variam de três meses a prisão perpétua. Uma dezena de mortes ligadas à suposta tortura – a descrição dos casos choca. Mais de mil desaparecidos. O governo chinês, a respeito dos protestos, conforme revelou Zero Hora em 26 de fevereiro, ‘afirma que a ação dos revoltosos deixou 19 mortos (18 civis e um policial) e não fala de vítimas da repressão das autoridades’. Além disso, admite apenas a detenção e condenação de 80 pessoas.

É uma pena: o triste quadro – não importa o lado em que se acredite - poderia ter sido completamente evitado, nem mesmo existir, caso o governo da China deixasse os tibetanos tomarem conta de si mesmos, terem um governo autônomo, como no passado. Nenhum grito de dor teria sido ouvido, nenhum excesso teria sido cometido – e não falo apenas da polícia chinesa, alguns manifestantes tibetanos também ‘perderam a cabeça’. Nem mesmo talvez fosse significativo o número de pessoas que saem à rua relembrar o 10 de março. E, caso o Tibete não tivesse sido invadido, nem mesmo haveria de ser marcante tal data. Porém, a realidade é bem diferente e toca a muitos.

Neste ano, as mobilizações continuam, tanto no exterior – como mostrou ZH em 26 de fevereiro – quanto no próprio Tibete – como confirmam visitas ao site da TCHRD -, mesmo sob imprevisíveis consequências. Em 16 de fevereiro, por exemplo, quinze manifestantes foram presos após uma marcha pacífica de duas horas pela praça central da cidade de Lithang. O crime? Carregar um retrato do Dalai Lama e desejar em alto e bom tom a sua volta, além da independência tibetana. O Dalai, por sua vez, já afirmou que se contentaria com o retorno da autonomia. Mas as autoridades de Pequim não negociam a sério.

A ONU é bastante articulada para pressionar o Irã. E os clamores tibetanos, quando ouvirá?

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