segunda-feira, 21 de abril de 2008

Budistas que ficam em pé


Por Matthew Weiner*


Para ler o original deste texto em inglês,
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Os ocidentais tendem a pensar no Budismo como uma religião passiva, centrada na meditação silenciosa e o crescimento espiritual pessoal. A imagem do Buda sentado com um sorriso reforça esta percepção.

Portanto, embora o Ocidente esteja muito familiarizado com o conflito e o ativismo em outras religiões, a "revolução açafrão" na Birmânia e a "revolta das altas altitudes" no Tibete representaram uma surpresa para muitos.

Na realidade, existe uma saudável tradição de ativismo budista. Muitas vezes chamada "Budismo Engajado", um termo cunhado por Thich Nhât Hanh, monge Zen vietnamita, esta tradição incentiva uma critica budista das estruturas políticas e económicas e outros esforços para aliviar o sofrimento social.

No Sri Lanka, o Movimento Sarvodaya trabalha em mais de mil aldeias para empoderar os pobres. Maha Ghosananda, um reverenciado monge budista cambojano, guiou milhares de pessoas em caminhadas pacíficas através dos "campos da morte" em busca de reconciliação com os Khmeres Vermelhos. O próprio Nhât Hanh apelou aos governos do Vietnã do Norte e do Sul para que parassem a sua recíproca carnificina.

Na Tailândia, o "Monge da Floresta" Prachak "ordenou" árvores da floresta colocando hábitos de monge ao redor delas para salvá-los dos madeireiros. O movimento Tzu-Chi, com sede em Taiwan, conta com milhares de voluntários que respondem aos desastres naturais e os provocados pelo homem.

O Reverendo Nakagaki da Igreja Budista de Nova Iorque realiza uma cerimónia anual no aniversário do bombardeio de Hiroshima. Após o 11 de setembro, ele lembrou a utilização de campos de internação por parte da América na Segunda Guerra Mundial e apelou a todos os budistas para que ajudassem aos cidadãos muçulmanos. Nakagaki costuma mostrar uma imagem do Buda em pé.

Ele diz que o Budismo é para cultivarmos uma mente pacífica, mas não para ficarmos sentados apenas.

Os ativistas budistas citam as escrituras para sustentar o seu argumento de que estão simplesmente seguindo o que o Buda ensinou. Em uma delas, o Buda enfrenta um assassino que está prestes a matar a própria mãe; em outra, para uma guerra entre duas tribos.

Um terceiro exemplo é a idéia do Bodhisattva: um ser que trabalha incansavelmente para salvar todos os outros seres do sofrimento.

Uma das origens da falta de compreensão do Budismo por parte do Ocidente é a nossa fascinação com a meditação. Enquanto a meditação é tão fundamental para o Budismo como a oração o é para a Cristandade, o Judaísmo e o Islã, isto não exclui a ação, tanto quanto não o faz a oração.

Na verdade, o foco budista na meditação enfatiza um estado da mente que pode conduzir a uma determinada forma de ativismo – meditação andando e resistência não violenta - como demostraram Maha Ghosananda no Camboja ou os monges da Birmânia.

Os equívocos continuam com o termo "monge budista". "Monge" é um termo cristão para designar ascetas religiosos que geralmente praticam a sua fé em isolamento do mundo. A palavra vem do grego monos, "sozinho".

Mas Bikkhu, o termo budista para designar o monge, se traduz literalmente como "mendigo".

Os Bikkhus ensinam e orientam a comunidade leiga e mendigam a sua comida. Desde os começos da prática budista, os Bikkhus sempre tiveram uma profunda relação de reciprocidade com o seu mundo leigo - incluindo o governo - como professores e modelos espirituais. Eles sempre atuaram dentro do mundo.

Outra noção que não se sustenta ao escrutínio histórico é que todos os ativistas budistas são militantes pacifistas; aliás, há quem argumente que nunca existiu um guerra budista. Mas há também lamentáveis exemplos ao longo da história de participação budista em opressão e violência governamental.

No entanto, é pelo ativismo pacífico que os monges budistas são mais conhecidos e respeitados. O fato que tenham se oposto à injustiça na Birmânia e no Tibete não deveria nos surpreender; o fato de eles não terem combatido a violência com a violência deve ser louvado.


* Matthew Weiner é diretor de programas do Interfaith Center of New York.


Fonte: International Herald Tribune, edição de 01/04/2008

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