domingo, 27 de abril de 2008

Contestação ao artigo de Slavoj Zizek

Paulo Stekel (editor da Revista Horizonte - Leitura Holística)



Artigo parcial do filósofo esloveno Slavoj Zizek publicado na Folha de São Paulo em 13 de abril de 2008, que mereceu o repúdio de todos os que lutam pela causa do Tibet:


O Tibete não é tudo isso
--------------------------------------------------------------------------------
E se aqueles que se preocupam com a falta de democracia na China estiverem na realidade preocupados com o desenvolvimento acelerado do país?
--------------------------------------------------------------------------------

PROTESTOS ANTI-CHINA POR COMETER ATOS DE VIOLÊNCIA CONTRA MONGES NÃO LEVAM EM CONTA QUE PEQUIM AJUDOU A TIRAR TERRITÓRIO DA MISÉRIA E DA CORRUPÇÃO APÓS A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

SLAVOJ ZIZEK
COLUNISTA DA FOLHA

As notícias publicadas em toda a mídia nos impõem uma imagem determinada que é mais ou menos como segue. A República Popular da China, que, nos idos de 1949, ocupou ilegalmente o Tibete, durante décadas promoveu a destruição brutal e sistemática não apenas da religião tibetana, mas também da própria identidade dos tibetanos como povo livre. Os protestos recentes do povo tibetano contra a ocupação chinesa foram novamente sufocados com força policial e militar bruta.
Como a China está organizando os Jogos Olímpicos de 2008, é dever de todos nós que amamos a democracia e a liberdade pressionarmos a China para devolver aos tibetanos aquilo que ela lhes roubou; não se pode permitir que um país que possui um histórico tão deficiente em matéria de direitos humanos passe uma mão de cal sobre sua imagem com a ajuda do nobre espetáculo olímpico.
O que farão nossos governos? Vão ceder ao pragmatismo econômico, como de costume, ou encontrarão a força necessária para colocar nossos mais elevados valores éticos e políticos acima dos interesses econômicos de curto prazo?
Embora a atividade chinesa no Tibete sem dúvida tenha incluído muitos atos de destruição e terror assassino, existem muitos aspectos dela que destoam dessa imagem simplista de "mocinhos versus vilões".
Enumero, a seguir, nove pontos a serem mantidos em mente por qualquer pessoa que faça um julgamento sobre os fatos recentes no Tibete.

Poder protetor
1) Não é fato que até 1949 o Tibete era um país independente, que então foi repentinamente ocupado pela China. A história das relações entre eles é longa e complexa, e em muitos momentos a China exerceu o papel de poder protetor. O próprio termo "dalai-lama" é testemunho dessa interação: reúne o "dalai" (oceano) mongol e o "bla-ma" tibetano.
2) Antes de 1949, o Tibete não era nenhum Xangri-Lá, mas um país dotado de feudalismo extremamente rígido, miséria (a expectativa média de vida pouco passava dos 30 anos), corrupção endêmica e guerras civis (sendo que a última, entre duas facções monásticas, ocorreu em 1948, quando o Exército Vermelho já batia às portas do país).
Por temer a insatisfação social e a desintegração, a elite governante proibia o desenvolvimento de qualquer tipo de indústria, de modo que cada pedaço de metal usado tinha que ser importado da Índia.
Mas isso não impedia a elite de enviar seus filhos para estudar em escolas britânicas na Índia e transferir seus ativos financeiros a bancos britânicos, também na Índia.
3) A Revolução Cultural que devastou os mosteiros tibetanos na década de 1960 não foi simplesmente "importada" dos chineses: na época da Revolução Cultural, menos de cem guardas vermelhos foram ao Tibete, de modo que as turbas de jovens que queimaram mosteiros foram compostas quase exclusivamente de tibetanos.
4) No início dos anos 1950, começou um longo, sistemático e substancial envolvimento da CIA na incitação de distúrbios anti-China no Tibete, de modo que o receio chinês de tentativas externas de desestabilizar o Tibete não era, de modo algum, "irracional".
5) Como demonstram as imagens veiculadas pela TV, o que está acontecendo agora nas regiões tibetanas já não é mais um protesto "espiritual" pacífico de monges (como o que aconteceu em Mianmar um ano atrás), mas (também) bandos de pessoas matando imigrantes chineses comuns e incendiando suas lojas. Logo, devemos avaliar os protestos tibetanos segundo os mesmos critérios com os quais julgamos outras manifestações violentas: se tibetanos podem atacar imigrantes chineses em seu próprio país, por que os palestinos não podem fazer o mesmo com colonos israelenses na Cisjordânia?
6) É fato que a China fez grandes investimentos no desenvolvimento econômico do Tibete e em sua infra-estrutura, educação, saúde etc. Para explicar em termos simples: apesar de toda a opressão inegável, nunca, em toda sua história, os tibetanos medianos desfrutaram de um padrão de vida comparável ao que têm hoje.
7) Nos últimos anos, a China vem mudando sua estratégia no Tibete: a religião despida de política hoje é tolerada e mesmo apoiada. Mais do que na pura e simples coação militar.
Em suma, o que escondem as imagens veiculadas pela mídia de soldados e policiais chineses brutais espalhando o terror entre monges budistas é a muito mais eficaz transformação socioeconômica em estilo americano: dentro de uma ou duas décadas, os tibetanos estarão reduzidos à situação dos indígenas americanos nos EUA.
Parece que os comunistas chineses finalmente entenderam a lição: de que vale o poder opressor de polícias secretas, campos e guardas vermelhos destruindo monumentos antigos, comparado ao poder do capitalismo sem freios, quando se trata de enfraquecer todas as relações sociais tradicionais?

Ideologia "new age"
8) Uma das principais razões por que tantas pessoas no Ocidente tomam parte nos protestos contra a China é de natureza ideológica: o budismo tibetano, habilmente propagado pelo dalai-lama, é um dos pontos de referência da espiritualidade hedonista "new age", que está rapidamente se convertendo na forma predominante de ideologia nos dias atuais.
Nosso fascínio pelo Tibete o converte numa entidade mítica sobre a qual projetamos nossos sonhos. Assim, quando as pessoas lamentam a perda do autêntico modo de vida tibetano, não estão, na verdade, preocupadas com os tibetanos reais.
O que querem dos tibetanos é que sejam autenticamente espirituais por nós, em lugar de nós mesmos o sermos, para continuarmos a jogar nosso desvairado jogo consumista.
O filósofo francês Gilles Deleuze [1925-75] escreveu: "Se você está preso no sonho de outro, está perdido". Os manifestantes que protestam contra a China estão certos quando contestam o lema olímpico de Pequim, "Um mundo, um sonho", propondo em lugar disso "um mundo, muitos sonhos".
Mas eles devem tomar consciência de que estão prendendo os tibetanos em seu próprio sonho, que é apenas um entre muitos outros.
9) Para concluir, a dimensão realmente nefasta do que vem acontecendo hoje na China está em outra parte. Diante da atual explosão do capitalismo na China, os analistas freqüentemente indagam quando vai se impor a democracia política, o acompanhamento político "natural" do capitalismo.
Essa questão com freqüência assume a forma de outra pergunta: até que ponto o desenvolvimento chinês teria sido mais rápido se fosse acompanhado de democracia política? Mas será que isso é verdade?
Numa entrevista há cerca de dois anos, [o sociólogo] Ralf Dahrendorf vinculou a crescente desconfiança com que a democracia vem sendo vista nos países pós-comunistas do Leste Europeu ao fato de que, após cada mudança revolucionária, a estrada que conduz à nova prosperidade passa por um "vale de lágrimas".
Ou seja, após o colapso do socialismo não se pode passar diretamente para a abundância de uma economia de mercado bem-sucedida: o sistema socialista limitado, porém real, de bem-estar e segurança precisou ser desmontado, e esses primeiros passos são necessariamente dolorosos.

Vale de lágrimas
O mesmo se aplica à Europa Ocidental, onde a passagem do Estado de Bem-Estar Social para a nova economia global envolve renúncias dolorosas, menos segurança e menos atendimento social garantido.
Para Dahrendorf, o problema é resumido pelo fato de que essa dolorosa passagem pelo "vale de lágrimas" dura mais tempo que o período médio entre eleições (democráticas), de modo que é grande a tentação de adiar as transformações difíceis, optando por ganhos eleitorais de curto prazo. Não surpreende que os países mais bem-sucedidos do Terceiro Mundo, em termos econômicos (Taiwan, Coréia do Sul, Chile), tenham adotado a democracia plena só após um período de governo autoritário.
Esse raciocínio não seria o melhor argumento em defesa do caminho chinês em direção ao capitalismo, em oposição à via seguida pela Rússia? Seguindo o caminho percorrido pelo Chile e a Coréia do Sul, os chineses usaram o poder irrestrito do Estado autoritário para controlar os custos sociais da passagem para o capitalismo, desse modo evitando o caos.
Em suma, uma combinação esdrúxula de capitalismo e governo comunista, longe de ser uma anomalia ridícula, mostrou ser uma bênção (nem sequer) disfarçada: a China se desenvolveu na velocidade em que o fez não apesar do governo comunista autoritário, mas devido a ele.
E se aqueles que se preocupam com a falta de democracia na China estiverem na realidade preocupados com o desenvolvimento acelerado da China, que faz dela a próxima superpotência global, ameaçando a primazia do Ocidente?
Há mesmo um outro paradoxo em ação aqui: e se a prometida segunda etapa democrática que vem após o vale de lágrimas autoritário nunca chegar?
É isso, possivelmente, que é tão perturbador na China de hoje: a idéia de que seu capitalismo autoritário talvez não seja apenas um resquício de nosso passado, a repetição do processo de acúmulo capitalista que se desenrolou na Europa entre os séculos 16 e 18, mas sim um sinal do futuro.
E se "a combinação agressiva entre o chicote asiático e o mercado acionário europeu" se mostrar economicamente mais eficiente que nosso capitalismo liberal? E se ela assinalar que a democracia, tal como a conhecemos, não é mais condição e motor do desenvolvimento econômico, e sim um obstáculo a ele?


--------------------------------------------------------------------------------
SLAVOJ ZIZEK é filósofo esloveno e autor de "Um Mapa da Ideologia" (Contraponto). Ele escreve na seção "Autores", do Mais! . Tradução de Clara Allain .


A CONTESTAÇÃO

Todos nós, que defendemos os direitos do povo tibetano, ficamos indignados com a parcialidade do artigo e o desconhecimento de seu autor de questões históricas importantes relativas ao Tibet e ao Budismo Tibetano.
Chegamos a ser instados por algumas pessoas a escrever uma crítica a este artigo. Mas, antes de fazê-lo, recebemos uma crítica ao referido artigo feita pelo Monge Joaquim Monteiro, do Budismo Terra Pura. Por considerarmos que a crítica do monge cumpre sua função perfeitamente, a postamos logo abaixo:



Comentários críticos ao "O Tibete não é tudo isso" de Slavov Zizek


Prezados editores do "Mais":

Tive a oportunidade de ler a matéria de título "O Tibete não é tudo isso" de autoria do Sr. Slavoj Zizek e gostaria de tecer alguns comentários críticos em relação aos 9 pontos levantados pelo autor:

1- O primeiro ponto consiste na alegação de que a relação entre a China e o Tibet é longa e complexa e que é problemática a asserção de que o Tibete era um país independente em 1949 quando foi invadido pela China. Acho importante ressaltar que "China" é um termo muito vago no que diz respeito à unidade política desse país. Na crônica histórica chinesa geralmente se emprega o nome de cada dinastia para designar a unidade política. Acho no mínimo problemático afirmar que o Tibet tenha estado sujeito ao poder protetor da China durante alguma das Dinastias nacionais, mas me parece bem mais fácil e mais concreto apontar para a relação entre esses dois estados nas três últimas Dinastias (Yuan, Ming e Shin) e na época da república chinesa. Na dinastia Yuan, China e Tibet fazem parte de uma mesma formação política, mas a própria China nada mais é nessa época do que uma parte do Império Mongol. Se a atual República popular da China quizer reclamar como integrante de seu território toda a extensão territorial do Império Mongol ela teria que reclamar a Hungria e a Ucrânia como parte de seu território. Na Dinastia Ming são expulsos os Mongóis e consequentemente à sua expulsão o território chinês mingua considerávelmente. Não conheço nenhum historiador responsável que afirme que o Tibete fazia parte do território chinês durante essa Dinastia. No que diz respeito à última Dinastia, a Dinastia Shin é polêmico que o Tibet fizesse parte do território dessa Dinastia, mas o problema central não é esse: mesmo que o Tibet tivesse se tornado parte do território dessa Dinastia ela era da mesma forma que o Império Mongol uma unidade política capaz de abarcar a China e o Tibet em seu interior. A Dinastia Shin era uma unidade política completamente distinta da atual República popular da China e sua relação com o Tibet em nada legitima o direito de posse territorial do Tibet por parte desta última. O exemplo dado por Zizek a respeito da origem do termo Dalai Lama é particularmente infeliz: esse título se origina em uma relação contratual entre o Tibet e a Mongólia e não entre o Tibet e a China. Para terminar, existem várias avaliações a respeito da relação entre o Tibete e a república chinesa iniciada em 1911, mas não conheço nenhum historiador responsável que reconheça que o Tibet fazia parte do território chinês nesse período. Assim sendo, a invasão do Tibet pela China em 1949 assume um caráter nítidamente imperialista e os argumentos apresentados por Zizek se revelam como a expressão de uma ignorância e obscurantismo verdadeiramente inacreditáveis. Semelhante ignorância e obscurantismo não condizem com o ofício de um filósofo.

2- O segundo ponto levantado por Zizek diz respeito ao feudalismo rígido e à ausência de desenvolvimento econômico no Tibet anterior à invasão chinesa.
Acho estranho que se tente superar esses problemas através de uma ocupação imperialista, mas se impõe aí a seguinte questão: a quem esse desenvolvimento econõmico tem beneficiado? Ao que parece não foi ao povo tibetano.

3- O argumento seguinte consiste em que a destruição dos mosteiros tibetanos não foi um efeito importado pela revolução cultural na medida em que só estavam estacionados 100 guardas vermelhos no Tibet da época e que as destruições foram desenvolvidas pelos próprios tibetanos. Acho duvidosos esses dados históricos e gostaria de solicitar provas de sua veracidade, mas essa não é a questão decisiva. O que importa é que tendo sido essas destruições orquestradas pela ideologia e pela liderança política do governo de Beijing ele não tem como se eximir da responsabilidade por esse processo de destruição cultural e religiosa. Trata-se de outro argumento inacreditável para alguém que pretende representar a filosofia.

4- O quarto argumento tenta racionalizar a invasão chinesa do Tibet em função da presença de agitadores da CIA que buscavam desestabilizar essa região.
Dizer isso é a mesma coisa que justificar a antiga invasão do Afeganistão pela URSS. (existe aí um dado curioso: Tibet e Afeganistão possuem um destino comum como objetos da disputa territorial das nações imperialistas)

5- O quinto argumento diz respeito à violência dos protestos. Além de silenciar a respeito da brutal repressão policial voltada para esses protestos evita discutir a complexidade da avaliação contextual e a existência de forças políticas envolvidas que possuem orientação completamente distinta dos Monges budistas e do Dalai Lama. A comparação completamente infeliz com a situação palestina evidencia a meu ver um viés claramente fascista na abordagem de Zizek.

6- Aparece em seguida a alegação de que a China tem investido economicamente no Tibet e que esses investimentos tem proporcionado ao povo tibetano um padrão de vida de que ele nunca gozou em toda sua história. É curioso que ele silencia a respeito da política de transferência de populações e dos privilégios econômicos e sociais que essas populações gozam em relação à população tibetana. Semelhante visão aponta para uma concepção vulgarmente desenvolvimentista, visão essa que parece se constituir no único fundamento das infelizes afirmações de Zizek.

7- O argumento seguinte diz respeito em parte ao abrandamento da repressão física à religião e ao fato parcialmente verdadeiro de que os chineses aprenderam que o capitalismo sem freios é muito mais eficaz que a violência física quando se trata de enfraquecer as relações sociais tradicionais. Zizek confirma essa visão afirmando que em uma ou duas décadas os tibetanos estarão reduzidos a uma minoria semelhante aos índios Norte-Americanos.

Semelhante afirmação implica a meu ver em uma apologia do genocídio cultural orquestrado pelo desenvolvimentismo e pelo capitalismo selvagem.

Tudo isso me parece uma grotesca justificação do genocídio de minorias através da categoria criminosa da inevitabilidade histórica do capitalismo sem freios. Pretendo que a função de um filósofo consiste em criticar radicalmente semelhante visão e em apontar caminhos para sua superação. Zizek parece ter capitulado diante da ideologia neo-liberal e abdicado de seu papel de filósofo.

8- Vem em seguida a visão extremamente preconceituosa de que a motivação da solidariedade ocidental ao Tibet deriva da ideologia "New Age" veiculada pelo Budismo do Dalai Lama. Sendo eu mesmo budista e essencialmente crítico da ideologia do "New Age" sinto-me obrigado a protestar energicamente contra uma asserção tão profundamente marcada pelo preconceito e pela ignorância. Mesmo no Brasil as lideranças budistas que lideram o movimento de solidariadade ao Tibet são essencialmente críticas à ideologia do "New Age". Zizek chega ao absurdo de expressar o temor de que essa "ideologia budista do new age" esteja se transformando na ideologia dominante do mundo capitalista globalizado, afirmação essa que além de ser uma verdadeira expressão de ignorância e obscurantismo traz em sí fortes implicações xenófobas e etnocêntricas.

9- O último argumento é o mais sério de todos e me parece expressar o ponto central da visão de Zizek. Ele aponta para uma possível contradição entre o desenvolvimento econômico e a democracia e desenvolve uma verdadeira apologia da eficácia dos regimes autoritários no processo de desenvolvimento econômico. Semelhante visão é um insulto para quem viveu sob as ditaduras militares desenvolvimentistas no Brasil e em outros países da América latina.

E isso aponta para o caráter medíocre da visão marxista de Zizek. Ele ainda parece acreditar no mito de que o crescimento das forças produtivas conduz à desagregação das relações de produção capitalista. Semelhante visão é virtualmente idêntica à visão do Partido comunista Chinês que resume sua atual tarefa como sendo o "desenvolvimento das forças produtivas". Lembro-me de ter assistido na televisão a um discurso do ditador norte-americano George W.Bush que justificava a entrada do mercado norte-americano no Iraque sob o pretexto da necessidade de superar a miséria. A retórica de Zizek não difere em nada a meu ver da visão dos ditadores chinese e norte-americanos.

Para concluir, gostaria de dizer que é precisamente essa crença fatalista na inevitabilidade do crescimento econômico capitalista e quantitativo, essa superstição que acredita existir alguma relação entre semelhante desenvolvimento e a superação da miséria das massas que se constituiu no verdadeiro monstro do século XX, monstro esse responsável por todas as guerras e genocídios que pudemos testemunhar nesse terrível e doloroso século. A superação de semelhante superstição me parece ser a grande questão do século XXI. Concordo com Zizek que existe um conflito essencial entre capitalismo e democracia; a questão para mim consiste precisamente na superação do capitalismo e da crença fatalista no crescimento econômico através da radicalização da democracia. Creio também que a publicação dessa grotesca apologia do genocídio, da ignorância e do obscurantismo coloca uma séria questão para os senhores: como conciliar a liberdade de expressão com a publicação de semelhante apologia do genocídio? Admito que não tenho uma resposta definitiva para essa questão: aguardo o claro posicionamento dos senhores editores do "Mais".


Sem mais, respeitosamente.

Joaquim Antônio Bernardes Carneiro Monteiro.
Monge Shaku Shoshin.
Rua José Líbero-80. Planalto Paulista.
CEP-04070-040.
Tel-5071-2422.


Currículo do Monge Joaquim Monteiro:

Joaquim Antonio Bernardes Carneiro Monteiro é monge budista.

Formação acadêmica :

• Licenciado em psicologia pela Universidade Santa Úrsula, Rio de Janeiro.(Junho,1983)

• Formação no Seminário Budista da Shinshu Otani-ha (Otani senshugakuin) em Kyoto.(Junho,1987)

• Mestrado em estudos Budistas pela Universidade de Komazawa, Tóquio,Japão. Especialidade: Budismo Chinês. (Março,1997)

• Doutor em estudos Budistas pela Universidade de Komazawa, Tóquio, Japão. Especialidade: Budismo Chinês. (Março,2000)


Mais uma vez declaramos nosso apoio ao trabalho de conscientização feito pelo Monge Joaquim Monteiro com este artigo e outras atitudes suas durante este período de conflito no Tibet. Gostaríamos de ver mais lideranças budistas do Brasil engajando-se nesta causa humanitária com a mesma força, coragem e inteligência do Monge Joaquim Monteiro. Essa é nossa maior aspiração, no momento.

Nenhum comentário: