Repostado cfe. original de: http://tibetelivrebrasil.blogspot.com.br/2014/01/cartaaberta-de-afastamento-do-movimento.html
Since 1995, when I converted to Buddhism, via Vajrayana, I've considered myself a simply Buddhist, regardless of any sectarianism. Though I have a predilection for Mahayana, I study Theravada, Vajrayana and the new schools that are appearing in the West. I am a Buddhist, not a sectarian. With reference to the ultimate teaching of the Buddha, his words serve me as an inspiration in search for the goal to make me a master of myself. I also base myself on Socially Engaged Buddhism movement proposed by Master Thich Nhat Hanh. I am not a proselytist - Buddhism is not proselytist - and I search to reconcile my Buddhist spiritual quest with other convictions, such as the importance of Laicism (to allow freedom and religious diversity), Human Rights, LGBT Rights, the autonomy of the peoples and environmental preservation. None of it contradicts Buddhism, far as I have studied, and also in the opinion of many Masters of Dharma.
Paulo Stekel
(Author, journalist, musician, ex-coordinator of the Free Tibet Movement - Brazil, coordinator of Movement “Espiritualidade Inclusiva” [Inclusive Spirituality])
Carta
Aberta de afastamento do Movimento Free Tibet, no Brasil denominado
“Tibete Livre – Brasil”, justificada a partir de um enfoque
budista não-sectário
Paulo
Stekel
Desde 1995, quando me
converti ao Budismo, através do Budismo Vajraiana, já me
considerava simplesmente um budista, independente de sectarismos.
Ainda que tenha predileção pelo Mahaiana, estudo o teravada, o
vajraiana e as novas escolas que estão se formando no Ocidente. Sou
um budista, não um sectário. Inspirando-me no último ensinamento
de Buda, suas palavras me servem de inspiração na busca do
tornar-me mestre de mim mesmo. Também inspiro-me no movimento do
Budismo Socialmente Engajado proposto pelo mestre Thich Nhat Hanh.
Não sou um proselitista – o Budismo não é proselitista – , e
busco conciliar minha busca espiritual budista com outras convicções,
como a importância do Laicismo (para permitir a liberdade e a
diversidade religiosa), dos Direitos Humanos, dos Direitos LGBT, da
autonomia dos povos e da preservação ambiental. Nada disso
contradiz o Budismo, até onde o estudei, e na opinião de muitos
Mestres do Dharma.
Em 2008, após
conversas com Gabriel Hartnell, da organização britânica Free
Tibet Campaign (Londres), iniciei um movimento de apoio ao Tibete,
que no Brasil se chamou “Tibete Livre – Brasil”. Alguns
interessados na questão tibetana se associaram à ideia, mas o
movimento no Brasil nunca obteve apoio realmente consistente,
especialmente por parte de praticantes do Vajraiana, como também é
conhecida a corrente tibetana do Budismo Mahayana. O motivo desta
baixa adesão sempre me intrigou.
Em setembro de 2008 foi
criado o blogue do movimento, que ainda está no ar, mas sem qualquer
atualização desde 2011: http://tibetelivrebrasil.blogspot.com.br.
Várias pessoas se tornaram colaboradoras dele, mas logo desistiram
de continuar, evidenciando que algo a mais havia.
Na seção “Nossa
Missão”, postada no blogue, estava escrito: “O Movimento
Tibete Livre – Brasil luta pelo direito do
povo tibetano de determinar seu próprio futuro. Nosso objetivo é
clamar pelo fim da opressão chinesa no Tibete ocupado e pela
garantia de respeito aos direitos humanos fundamentais dos
tibetanos.”
Um dos responsáveis
indiretos pelo desenvolvimento da postura que agora adoto em relação
ao Movimento Free Tibet dentro de uma perspectiva budista
não-sectária, é o Monge Joaquim Monteiro (Shaku Shoshin),
do Budismo Shin, que ao conceder-me uma entrevista, em 2008,
sabiamente abriu espaço para várias reflexões:
“(…) Parece-me
realmente que está em curso a formação de um Budismo
especificamente ocidental. Como o Budismo se faz presente em muitas
sociedades ocidentais de um caráter completamente diverso e
praticamente todas as tradições budistas estão presentes no
Ocidente acho difícil prever o rumo que esse “Budismo ocidental”
em formação irá assumir. É mais fácil responder a respeito da
formação de um “Budismo brasileiro”, pois não só participei
diretamente de alguns períodos de sua formação como também estou
engajado em suas atuais questões.
(…) Acredito que o desenvolvimento do “Budismo brasileiro” na sociedade do pós-guerra pode ser dividido grosseiramente em três períodos. O primeiro está centrado nas décadas de 60 e 70. Trata-se de um Budismo fortemente marcado pela mentalidade da contracultura e por uma perspectiva essencialmente individualista. (…)
(…) Acredito que o desenvolvimento do “Budismo brasileiro” na sociedade do pós-guerra pode ser dividido grosseiramente em três períodos. O primeiro está centrado nas décadas de 60 e 70. Trata-se de um Budismo fortemente marcado pela mentalidade da contracultura e por uma perspectiva essencialmente individualista. (…)
O segundo se deu a
partir dos meados da década de 90 através da introdução das
diversas linhagens do Budismo tibetano em nosso país. Nesse período
o Budismo começou a ter uma visibilidade social bem maior e sua
influência se expandiu bastante para além das comunidades étnicas
de origem oriental.
Acredito que o terceiro período, que agora vivenciamos, se constitua em uma avaliação crítica dos avanços e dos obstáculos presentes nos dois períodos anteriores. Com a expansão das comunidades budistas brasileiras e com sua crescente presença na sociedade não será possível evitar a questão da relação dessas comunidades com a sociedade brasileira. Acredito assim, que o essencial no momento é fortalecer a educação e o estudo sistemático do Budismo. Acredito também que só existirá um “Budismo brasileiro” no momento em que os budistas começarem a pensar a sociedade brasileira a partir das premissas da tradição budista.”
Acredito que o terceiro período, que agora vivenciamos, se constitua em uma avaliação crítica dos avanços e dos obstáculos presentes nos dois períodos anteriores. Com a expansão das comunidades budistas brasileiras e com sua crescente presença na sociedade não será possível evitar a questão da relação dessas comunidades com a sociedade brasileira. Acredito assim, que o essencial no momento é fortalecer a educação e o estudo sistemático do Budismo. Acredito também que só existirá um “Budismo brasileiro” no momento em que os budistas começarem a pensar a sociedade brasileira a partir das premissas da tradição budista.”
Durante o levante
tibetano de março de 2008, o Monge Joaquim Monteiro foi um dos
poucos praticantes budistas do Brasil a falar e escrever abertamente
sobre a questão, condenando a repressão patrocinada pelo regime
chinês. Mas, algo parece ter impedido que outros líderes budistas
se manifestassem com a mesma veemência, e ele respondeu a isso em
sua entrevista:
“As posturas que
assumi durante o levante tibetano foram derivadas em parte do estudo
e da reflexão que venho desenvolvendo há mais de duas décadas
sobre a questão tibetana e em parte de um sentimento de urgência
que me fez perceber que estava enfrentando um momento de importância
decisiva. Senti que era chegado o momento de passar à ação. No que
diz respeito às lideranças budistas a que você se refere não
posso dizer nada de conclusivo a respeito dos eventuais obstáculos
que as impediram de agir. Com umas poucas exceções os líderes
budistas brasileiros responderam à atual situação através de um
silêncio para mim incompreensível. Não quero e não posso dar uma
resposta conclusiva a respeito da postura dessas lideranças a que se
refere, mas acredito que seu silêncio talvez seja uma expressão da
mentalidade individualista que tem bloqueado tanto o estudo
sistemático do Budismo em sua relação com a sociedade
contemporânea quanto a formação de uma visão comunitária
conducente à práxis social.”
Quando inquirido sobre
a omissão (à época do levante) de boa parte dos líderes budistas,
em especial a comunidade brasileira do Budismo Tibetano,
constituindo-se isso num contrassenso, o Monge Joaquim respondeu:
“Levantando uma
hipótese a ser confirmada, essa postura dos budistas de tradição
tibetana pode ser uma falha circunstancial da introdução dessa
tradição ou pode ser a expressão de que o processo de introdução
do Budismo tibetano no Brasil possui aspectos mais problemáticos do
que geralmente se pensa. Tive até hoje muito pouco contato com os
budistas de tradição tibetana no Brasil, mas percebi através
desses contatos alguns pontos extremamente positivos e alguns
aspectos possivelmente problemáticos. O que sinto como a
contribuição mais consistente do Budismo tibetano em nosso meio é
que ele conseguiu formar uma minoria de estudiosos sérios do
pensamento budista em um nível jamais divisado em nosso país. No
entanto, sinto que o senso comunitário centrado nas linhagens talvez
tenha sérias dificuldades na passagem para a práxis social
concreta. Todas essas são questões que gostaria de compartilhar em
um eventual diálogo com os líderes das tradições tibetanas no
Brasil.”
Este “senso
comunitário centrado nas linhagens” se fez demonstrar em
nossas atividades quando nos demos conta de que os membros das sangas
tibetanas no Brasil eram orientados a não se envolver, nem a apoiar
diretamente as ações do Free Tibet em nosso país. Após esta
entrevista, e mais alguns fatos, perdemos apoios de vários ativistas
pró-tibete sem um motivo aparente. Pareciam ter sido realmente
orientados a se afastar...
Depois de muito
insistir, consegui do Chagdud Gonpa Brasil uma resposta por e-mail
sobre o motivo do pouco engajamento da sanga Niyngmapa na causa
tibetana que parece comprovar o que digo. A resposta foi enviada pela
secretária da Lama Chagdud Khadro e a torno pública pela primeira
vez aqui:
“(...) sobre a
questão Tibetana. Abaixo vai o que a Khadro respondeu há pouco para
alguém sobre esta questão (…).
Although your compassionate concern for the Tibetan people is
deeply appreciated, we follow the tradition established in the time
of the late Chagdud Rinpoche to help with private contributions to
monasteries in Tibet and to limit our public expressions to prayers
and ceremonies. [Embora
sua preocupação compassiva pelo povo tibetano seja muito apreciada,
seguimos a tradição estabelecida na época do falecido Chagdud
Rinpoche de ajudar com contribuições privadas os mosteiros no
Tibete e limitar nossas expressões públicas a orações e
cerimônias.]”
A última atualização
do blogue do Movimento Tibete Livre – Brasil é de março de 2011.
Nesta época, já fazia várias reflexões sobre a questão tibetana,
o Dalai Lama e o Budismo Tibetano. Anunciei a alguns apoiadores que
deixaria o movimento Free Tibet e que revelaria logo meus motivos,
mas nestes quase três anos refleti um pouco mais e, para minha
surpresa, descobri mais motivos para um afastamento definitivo. Por
isso, escrevo agora esta carta pública de afastamento. E, a faço
analisando os fatos sob uma perspectiva budista não-sectária.
A baixa resposta dos
praticantes do Budismo Tibetano (e de budistas de outras linhagens)
ao Movimento Free Tibet no Brasil me chamou a atenção. Isso começou
a revelar os detalhes da política tibetana no exílio. A resposta do
Chagdud Gonpa alertou-me para uma questão: os meandros da política
tibetana antes e pós-Tibete anexado.
A gota d'água foi
quando o secretário do Dalai Lama disse para um de nossos apoiadores
em evento internacional que o ativismo do Dalai Lama em prol do
Tibete era a “via pacífica” e que o Free Tibet era a outra via,
insinuando que não seria pacífica. Por isso, não apoiavam com
tanta ênfase o movimento e ainda pediam que as comunidades
vajraianas não se engajassem oficialmente no mesmo. Para mim, isso
soou como muita hipocrisia, uma vez que, no website oficial do
Governo Tibetano no Exílio, entre as organizações que apoiam a
liberdade para o Tibete ali listadas, constava o site da ONG Free
Tibet Campaign. Ainda hoje, no novo site do Governo Tibetano
(http://tibet.net), é possível
achar várias referências positivas às ações da ONG inglesa Free
Tibet Campaign (conferir em:
http://tibet.net/?s=%22free+tibet+campaign%22&x=0&y=0).
Como pode alguém dizer que não éramos a via pacífica e ainda
assim incluir o site do movimento entre os links relacionados?
Quando, a partir de
1988, o Dalai Lama reconheceu a Bönpa como a quinta linhagem
tibetana de ensinamentos vajraiana, isso evidenciou um preconceito
existente anteriormente por parte dos mosteiros e do próprio governo
tibetano. Essa linhagem não havia sido reconhecida no Tibete livre
por questões político-religiosas. Mas, agora que a situação é
outra, o reconhecimento dos Bönpos se tornou interessante para o
Governo Tibetano no Exílio, pois os traz para a luta em prol do
Tibete.
Poderíamos dizer que,
ao fomentar uma visão não-sectária com relação às cinco
linhagens tibetanas, o Dalai Lama se mostrava totalmente favorável à
diversidade religiosa (budista ou não) e mesmo ao diálogo
interreligioso. Mas, e a polêmica questão da prática do Protetor
Dorje Shugden?
Dorje Shugden é uma
deidade do vajraiana, especialmente da escola Gelugpa, onde é visto
como um Protetor do Darma e a encarnação do Lama Dragpa Gyaltsen do
Mosteiro de Drepung, um contemporâneo do 5º Dalai Lama (1617–1682).
Shugden é um Protetor do Darma das tradições Sakya e Gelugpa,
venerado por mais de trezentos anos. A controvérsia de Shugden
surgiu no fim da década de 1970, quando o atual Dalai Lama começou
a se pronunciar contra a prática, e foi intensificada deste 1996,
quando ele publicou uma “proibição explícita”, reprimindo a
prática dentro da comunidade de exilados tibetanos e considerando
Shugden como um não-iluminado e um ser das trevas, um “espírito
das forças negras”.
A proibição desta
prática com veemência por parte do Dalai Lama (embora tenha sido
apresentada como “conselho” - ver:
http://tibet.net/2008/06/05/his-holiness-the-dalai-lamas-advice-concerning-dolgyal/)
e a posterior discriminação e violência dos tibetanos no exílio
para com seus praticantes, lamas, leigos e até crianças, é algo
inadmissível num mundo democrático, laico e que busca a paz, quanto
mais para budistas que possuem a não-violência como uma de suas
práticas basilares. O próprio governo tibetano no exílio se
posicionou oficialmente, favorecendo a opinião do Dalai Lama:
http://tibet.net/2007/07/10/statement-by-the-cta-on-shugdendholgyal-followers-from-tibet/.
O Lama Geshe Rabten, se
pronunciou a respeito: “O Dalai Lama permanece o líder temporal
dos tibetanos no exílio, mas, não é mais o líder espiritual
indiscutível.” Outros alegam que tal “discriminação de
deidade” é ilegal de acordo com a Constituição do Tibete, a
Constituição da Índia e a Declaração Universal dos Direitos
Humanos.
A
origem da prática de Dorje Shugden está envolvida em uma disputa
política no período do 5º Dalai Lama. Portanto, não há motivos
religiosos para a prática ser proibida, mas tão somente motivos
políticos, controvérsias de poder – algo temporal e impermanente,
ao qual não se deve dar tanta ênfase. Parece que o Dalai Lama e seu
staff não admitem qualquer contrariedade e isso não é nada
democrático. Ele só abdicou recentemente de suas tarefas como líder
da nação tibetana por sentir a pressão da juventude nascida no
exílio, uma juventude que vê as coisas sob outro viés, mais
moderno e abrangente. Mas, sua proibição da prática de Shugden
continua de pé.
Na verdade, a despeito
da controvérsia sobre o Tibete ser totalmente independente da China
antes da invasão ou não, o fato é que sua anexação foi
facilitada por seu governo ser muito frágil e não ter promovido em
centenas de anos nenhuma melhoria social considerável para a imensa
maioria miserável da população. Esta falha foi muito bem
aproveitada pela China comunista na hora de justificar sua invasão.
Contudo, isso não justifica a violação dos direitos humanos e a
morte de quase um terço da população tibetana. E, o que o Dalai
Lama e seu staff conseguiram até hoje fazer pelos tibetanos
oprimidos? Quase nada, a não ser um exílio que transfere o governo
inerte de antes para o norte da Índia. Agora, o Dalai Lama diz ter
abandonado a ideia de independência em prol de uma autonomia do
Tibete. Acho que ele deveria ir mais longe. O que me proponho a
apoiar é um Tibete independente ou autônomo, mas que seja
totalmente laico e governado pelo próprio povo tibetano, não pelos
lamas nem pelos chineses. Assim, o Budismo no Tibete voltaria a ter o
status original: o de prática religiosa sem ligação direta com a
política, onde cada linhagem teria a plena liberdade para se
desenvolver e se expandir.
Atualmente, a própria
comunidade tibetana pelo mundo se anda dividida por causa de decisões
arbitrárias como: a decisão unilateral do Dalai
Lama de desistir do objetivo de independência do Tibete, sem
consulta ao governo ou ao povo tibetano, o maior interessado; sua
incapacidade de cumprir o compromisso declarado de democratizar o
governo tibetano; sua aquiescência à censura da imprensa e à
repressão da liberdade de expressão; a supressão impiedosa da
liberdade de religião através da proibição da prática de Shugden
unicamente por razões políticas.
Contudo, o que mais deve estranhar a qualquer um que defenda o Estado
Laico no tocante à questão tibetana é que a própria
natureza e função do Dalai Lama no governo tibetano o transforma
num sistema teocrático feudal - com sua mistura endêmica de
religião e política, a sua tradução de idéias religiosas nas
políticas de governo, a sua profunda confusão sobre os papéis de
líder religioso e
chefe de Estado, e sua visão retrógrada da posição do Dalai Lama como o “Deus-Rei” ou “Buda Vivo” do Tibete.
chefe de Estado, e sua visão retrógrada da posição do Dalai Lama como o “Deus-Rei” ou “Buda Vivo” do Tibete.
Se o Governo Tibetano
no Exílio se considera um governo democrático e laico, então a
proibição da prática de Shugden além dos muros dos mosteiros
gelugpas é uma afronta à liberdade religiosa. A proibição da
prática não pode extrapolar o ambiente religioso dos mosteiros e
aparecer no website oficial do Governo Tibetano, pois isso significa
que o Governo apoia a proibição, sepultando qualquer imparcialidade
laica. Não há um peso e duas medidas. Se o Governo Tibetano no
Exílio não se considera um governo laico, então, também não é
democrático e não podemos apoiá-lo de modo algum. A constituição
tibetana no exílio foi retirada do atual site oficial do governo
tibetano, mas pode ser acessada aqui:
http://www.servat.unibe.ch/icl/t100000_.html.
Ali, fica claro que a constituição tibetana prevê liberdade
religiosa e diz estar de acordo com a Declaração Universal dos
Direitos Humanos e com as disposições da ONU. Além disso,
considera que o futuro Tibete livre seria uma República Democrática
Federal.
Agora que o Dalai Lama
abdicou de suas funções como líder político e ficou apenas com as
funções religiosas, a constituição tibetana sofreu alterações,
mas tais alterações a deixam ainda menos laica (ver:
http://www.thetibetpost.com/en/news/international/1728-new-changes-to-the-constitution-of-tibet-after-his-holiness-decision-).
O caminho a ser seguido deveria ser outro, o do completo laicismo.
Para onde foi todo o dinheiro do “Free Tibet”
europeu? Por décadas, grupos de apoio e organizações em todo o
Ocidente foram angariando fundos para o Movimento “Free Tibet”. A
partir de doações de governos para a promoção de bottoms,
adesivos, bolsas e bonés; através da organização de concertos,
jantares e exposições; e através de qualquer outro dispositivo de
angariação de fundos que se possa imaginar, essas organizações
continuam a levantar grande quantidade de dinheiro para o que a
maioria dos benfeitores ocidentais acredita ser o objetivo: um Tibete
livre, independente. Mas, não é mais isso que o Dalai Lama
busca...
Além disso, é esperado de todos os tibetanos,
onde quer que vivam, que paguem uma “taxa de independência” para
o governo tibetano no exílio. O registro desses pagamentos é
mantido no “Livro Verde” (Green Book) que cada tibetano carrega
consigo. Este livro, uma espécie de passaporte-adesão ao governo no
exílio, é essencial para os tibetanos na Índia que queiram uma
autorização para viagens ao exterior, e os que não pagam perdem
benefícios e serviços, e muitas vezes são condenados ao
ostracismo, arriscando a perseguição e o exílio de sua própria
comunidade. O governo tibetano também recebe grandes doações de
outras fontes, incluindo governos nacionais, particulares de muitos
países, instituições filantrópicas, empresas e muitos outros
tipos de organizações.
Os recursos arrecadados a partir da “taxa de
independência” e de todas estas outras atividades de angariação
de fundos não são utilizados para o apoio ou alívio da comunidade
tibetana. A maioria dos fundos para o alívio de refugiados, para o
órfão, a educação, os cuidados médicos e os hospitais, são
obtidos diretamente do governo indiano, a partir das principais
agências humanitárias em todo o mundo, os governos ocidentais e
fundos de caridade privados. Então, para que serve esta taxa? O
texto oficial no website do Governo Tibetano no Exílio diz: “O
pagamento da contribuição voluntária é uma condição para ganhar
o direito de voto nas eleições parlamentares.”
Se é voluntário, como pode ser condição para algo? E, o conceito
budista de doação, que tem sua máxima expressão em Dana Paramita,
a Perfeição da Generosidade?
Então,
pergunto: Como pode o Dalai Lama defender os direitos humanos e a
liberdade religiosa, enquanto se envolve em violação sistemática
dos mesmos no tocante à prática de Dorje Shugden?
Como pode
ele defender governos, valores e princípios democráticos, ao operar
no exílio o mesmo tipo de teocracia autocrática do antigo Tibete?
Como pode
continuar cobrando a “taxa de independência” e recebendo doações
via “Free Tibet”, já tendo abandonado unilateralmente a idéia
de independência do Tibete há anos?
Outra
atitude do Dalai Lama que me desagradou enormemente tem relação com
suas declarações a respeito da homossexualidade. Como gay (e
budista) convicto, não posso concordar com elas.
No
artigo “O Buda Gay”, que escrevi em 2012 (ver:
http://espiritualidadeinclusiva.blogspot.com.br/2012/08/o-buda-gay-um-estudo-amplo-sobre-visao.html)
apresentei as declarações contraditórias do Dalai Lama:
“Numa
entrevista de 1994, ele afirmou: "Se
alguém vem a mim e pergunta se a homossexualidade é boa ou não,
vou perguntar: 'Qual é a opinião do seu companheiro?' Se ambos
concordam, então eu acho que eu diria 'se dois machos ou duas fêmeas
concordam voluntariamente em ter satisfação mútua sem implicação
de prejudicar outros, então é bom'." No
entanto, em seu livro de 1996, Além do Dogma, ele afirma: "Um
ato sexual é considerado adequado quando os casais usam os órgãos
destinados à relação sexual e nada mais... a homossexualidade,
seja entre homens ou entre mulheres, não é imprópria em si mesma.
O que é impróprio é o uso de órgãos já definidos como
impróprios para o contato sexual."
O
Dalai Lama declarou que antes, esteve incerto sobre se uma relação
de mesmo sexo não-abusiva e de acordo mútuo seria aceitável dentro
dos princípios gerais do Budismo. Ao ter dificuldades em imaginar os
mecanismos de sexo homossexual, dizendo que a natureza tinha
arranjado órgãos masculinos e femininos "de
tal maneira que é muito apropriado... órgãos do mesmo sexo não
podem funcionar bem", o Dalai Lama
tem dito repetidamente aos grupos LGBT que ele não pode reescrever
os textos. O mesmo dizem padres e pastores cristãos fundamentalistas
sobre os textos bíblicos.
Em
1999, numa entrevista com Alice Thompson, ele declarou de modo
enfático: "Eles querem que eu
tolere a homossexualidade. Mas, eu sou um budista e, para um budista,
um relacionamento entre dois homens é errado. Algumas condutas
sexuais no casamento também são erradas.",
falando sobre masturbação e sexo oral. Também disse que "Se
uma pessoa não tem fé, é uma questão diferente"... "Se
dois homens realmente se amam e não são religiosos, então, está
OK para mim." Um discurso moderno
de exclusão? Afinal, o que o Dalai Lama deixa claro é que, se os
LGBTs querem ser como são, mas não forem religiosos budistas, tudo
OK. O alento é que ele não representa a palavra de todos os
budistas – mestres, monges e leigos – no mundo.
(…)
Certa vez, o monge budista Theravada Ajahn Brahmavamso escreveu para
o Jornal West Australian, respondendo a um artigo publicado ali, em
que o Dalai Lama foi citado como tendo dito que a homossexualidade
era imoral. Eis o que ele escreveu ao jornal:
"Caro
senhor/senhora, o Dalai Lama estava fora de sintonia quando disse (de
acordo com o seu artigo no West, 15 de abril, página 7) 'se você é
um budista, a homossexualidade é errada. Ponto final.' O Dalai Lama
não é o 'papa' do Budismo e, encantador como ele muitas vezes é,
às vezes ele erra. (...)
A
grande maioria dos budistas em todo o mundo moderno são inspirados a
aprender que o Buda certamente não discriminou a homossexualidade.
Os ensinamentos fundamentais do Budismo original mostram claramente
que não é se a pessoa é heterossexual, homossexual ou celibatária
que é boa ou ruim, mas é como uma pessoa usa a sua orientação
sexual que contribui para bom ou mau karma.
Portanto,
o fato é que o Buda, e, portanto, o Budismo, abraça gays e lésbicas
e transexuais com equidade e respeito. Por muito tempo o fanatismo
religioso tem causado sofrimento a grupos minoritários em nossa
sociedade. Todas as religiões devem ser mais amorosas. Ponto final!"
- Ajahn Brahm
Vários
mestres do Budismo Tibetano têm se manifestado favoráveis à
questão homossexual, o que é mais uma prova de que a declaração
do Dalai Lama é apenas a sua opinião, não um decreto.
Concluindo,
os motivos que me levaram a um afastamento do Movimento Free Tibet e,
agora, a anunciar meu desligamento em caráter definitivo, iniciando
um ativismo em prol dos direitos humanos do povo tibetano na esfera
laica, são:
- Sou um laicista e prefiro uma democracia laica para o Tibete, seja ele independente, região autônoma ou seja lá o que for. Não concordo com uma “teocracia budista”, se me permitem o termo, assim como não concordo com teocracias cristãs, islâmicas, judaicas, etc. Ainda neste item, sendo politicamente laico, discordo da proibição da prática de Dorje Shugden pelo Dalai Lama por motivos claramente políticos. Não sou praticante de Dorje Shugden, mas me solidarizo com seus adeptos, assim como me solidarizaria com os adeptos de qualquer culto pacífico que sofresse discriminação.
- A afronta aos direitos humanos dos tibetanos pelo governo da China desde a anexação do Tibete é, realmente, muito grave, mas a postura não-laica do Dalai Lama e seu staff tem contribuído para piorar a situação, que fica parecendo uma querela de poder, quando na verdade, envolve a morte de milhares de pessoas miseráveis, desassistidas (por ambos os lados) e inocentes.
- O preconceito homofóbico apresentado pelo Dalai Lama em suas declarações contraditórias. Contraditórias porque tentam colocar panos quentes na polêmica e acabam por causar mais confusão. Isso realça a discriminação e incita o preconceito, o que não é budista.
Dito isto, me desligo
definitivamente do movimento global conhecido por “Free Tibet”,
apoiador do Dalai Lama e de sua visão política que continua a
fomentar uma “teocracia budista (?)”, e continuo defendendo os
direitos humanos do povo tibetano de forma laica, sem viés
religioso, mas com ênfase na preservação da vida humana, da
cultura, da religião e da língua tibetanas. O blogue do “Tibete
Livre – Brasil” será encerrado, mas não excluído. E, dito
isto, continuo budista!
Sarva Mangalam! (Haja
benefício para todos os seres!)
Canoas, 21 de Janeiro
de 2014.
Paulo Stekel
(Escritor, jornalista,
músico, ex-coordenador geral do Movimento Tibete Livre – Brasil,
coordenador do Movimento Espiritualidade Inclusiva)
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ENGLISH VERSION
Open
Letter of renouncement to the "Free Tibet Movement", in
Brazil called "Tibete Livre – Brasil"
Paulo
Stekel
Since 1995, when I converted to Buddhism, via Vajrayana, I've considered myself a simply Buddhist, regardless of any sectarianism. Though I have a predilection for Mahayana, I study Theravada, Vajrayana and the new schools that are appearing in the West. I am a Buddhist, not a sectarian. With reference to the ultimate teaching of the Buddha, his words serve me as an inspiration in search for the goal to make me a master of myself. I also base myself on Socially Engaged Buddhism movement proposed by Master Thich Nhat Hanh. I am not a proselytist - Buddhism is not proselytist - and I search to reconcile my Buddhist spiritual quest with other convictions, such as the importance of Laicism (to allow freedom and religious diversity), Human Rights, LGBT Rights, the autonomy of the peoples and environmental preservation. None of it contradicts Buddhism, far as I have studied, and also in the opinion of many Masters of Dharma.
In 2008, after talks with Gabriel Hartnell, from the British NGO
“Free Tibet Campaign” (London), I started a movement in support
of Tibet in Brazil called "Tibete Livre - Brasil". Certain
stakeholders in the Tibet issue associated themselves with this idea,
but the movement in Brazil never really got consistent support,
especially from practitioners of Vajrayana, the Tibetan development
of Mahayana Buddhism. The reason for this low support has always
intrigued me.
In September 2008, the blog of the movement, which is
still on, was created but is no update since 2011:
http://tibetelivrebrasil.blogspot.com.br.
Several people became his collaborators, but soon dropped out to
continue, showing that there was something more.
In the "Our Mission" section posted on the blog, was
written: "The Movement 'Tibete Livre - Brasil' fights for the
right of the Tibetan people to determine their own future. Our goal
is to call for an end of Chinese oppression in occupied Tibet and to
ensure respect for the fundamental human rights of Tibetans."
One of the indirect individuals responsible for
developing posture I now adopt regarding Free Tibet Movement within a
non-sectarian Buddhist perspective, is the Brazilian Monk Joaquim
Monteiro (Shaku Shoshin), from Shin Buddhism, which when has given me
an interview in 2008 wisely opened up space for some reflection:
"(...) It seems to me that is actually under way the
formation of a specifically Western Buddhism. As Buddhism is present
in many western societies a completely different and almost all
Buddhist traditions are present in the West character, I find it hard
to predict the direction that "Western Buddhism" in
formation will take. It is easier to answer regarding the formation
of a "Brazilian Buddhism" because I not only participated
directly in some periods of their formation as I am also engaged in
their current issues.
(...) I believe that the development of the "Brazilian
Buddhism" in postwar society can be divided roughly into three
periods. The first is focused in the 60s and 70s. This is a Buddhism
strongly influenced by the counterculture mentality and an
essentially individualistic perspective. (...)
The second took place from the mid 90s through the introduction of
various lineages of Tibetan Buddhism in our country. During this
period Buddhism began to have a much greater social visibility and
its influence was expanded well beyond the ethnic communities of
Eastern origin (...)
I believe that the third period, which we
experience now, it constitutes a critical review of the advances and
obstacles present in the two previous periods. With the expansion of
Brazilian Buddhist communities and their growing presence in society,
you can not avoid the question of the relationship of these
communities with Brazilian society. I believe therefore, that
essential at the moment is to strengthen education and systematic
study of Buddhism. I also believe that there will only be a
'Brazilian Buddhism' at the time the Buddhists start thinking
Brazilian society from the premises of the Buddhist tradition."
During the Tibetan uprising of March 2008, the Monk Joaquim Monteiro
was one of the few Buddhists in Brazil to speak and write openly
about the issue, condemning the repression sponsored by the Chinese
regime. But something seems to have prevented other Buddhist leaders
to manifest with the same vehemence, and he answered to it during his
interview:
"The positions I took during the Tibetan
uprising were derived in part from study and reflection I have been
developing for more than two decades on the Tibetan issue and partly
in a sense of urgency that made me realize that I was experiencing a
moment of decisive importance. I felt that the moment had come to
take action. With regard to the Buddhist leaders you refer to, I can
not say anything conclusive about the possible obstacles that
prevented them from acting. With a few exceptions Brazilian Buddhist
leaders responded to the current situation through a silence to me
incomprehensible. I do not want and can not give a conclusive answer
regarding the attitude of the leaders referred to, but I believe
their silence is perhaps an expression of individualistic mentality
that has blocked both the systematic study of Buddhism in its
relation to contemporary society as formation of a community vision
conducive to social praxis."
When asked about the failure (at the time of the uprising) of most of
the Buddhist leaders, in particular the Brazilian community of
Tibetan Buddhism, something so nonsense, Monk Joaquim said:
"Raising a hypothesis to be confirmed, this
posture of the Buddhists of Tibetan tradition can be a circumstantial
failure of the introduction of this tradition or it may be expressing
that the process of introduction of Tibetan Buddhism in Brazil is
more problematic than is generally thought. I've had to date very
little contact with the Buddhist Tibetan tradition in Brazil, but I
realized through these contacts some extremely good points and some
potentially problematic aspects. What I feel like the more consistent
contribution of Tibetan Buddhism in our environment is that it was
able to form a minority of serious scholars of Buddhist thought on a
level never sighted in our country. However, I feel a sense of
community centered on lineages may have serious difficulties in the
transition to the concrete social praxis. All these are questions I
would like to share in a possible dialogue with the leaders of the
Tibetan traditions in Brazil."
This "sense of
community centered on lineages" has
turned out to be demonstrated in our activities when we realized that
members of Tibetan sanghas in Brazil were instructed to not engage,
or to directly not support the actions of the Free Tibet in our
country. After this interview, and a few more facts, we lost the
support of several pro-Tibet activists for no apparent reason. They
seemed to have been really oriented to move away...
After insistent questioning, I received from Chagdud Gonpa Brazil a
response by e-mail about why little engagement of Niyngmapa Sangha in
the Tibetan cause that seems to prove what I say. The reply was sent
to me by the secretary of Lama Chagdud Khadro and I'll show it
publicly here, for the first time:
Although
your compassionate concern for the Tibetan people is deeply
appreciated, we follow the tradition established in the time of the
late Chagdud Rinpoche to help with private contributions to
monasteries in Tibet and to limit our public expressions to prayers
and ceremonies.”
The last update of Free Tibet Movement – Brazil's blog is of March
2011. At this time, I've made several reflections on the Tibetan
issue, Dalai Lama and Tibetan Buddhism. Announced to some supporters
that I would leave the Free Tibet Movement and soon I would reveal my
reasons, but these almost three years I reflected a little more, and
to my surprise I've found more reasons for final renouncement. So now
I write this public letter of renouncement. And I do this by
analyzing the facts in a non-sectarian Buddhist perspective.
The low response of practitioners of Tibetan Buddhism (and other
Buddhist lineages) to the Free Tibet Movement in Brazil struck me.
This began to reveal details of Tibetan politics in exile. The answer
of Chagdud Gonpa prompted me to a question: the intricacies of
Tibetan politics before and after Tibet annexed to China.
The final straw was when the Dalai Lama's secretary said to one of
our supporters at an international event that Dalai Lama's activism
in support of Tibet was the "peaceful path" and the Free
Tibet was the other path, implying that it no would be peaceful.
Therefore, they do not strongly support the movement and still demand
that vajraiana communities officially not to engage themselves in it.
It
sounded to me like a lot of hypocrisy, since, on the official website
of the Tibetan Government in Exile, among the various organizations
listed there that support freedom for Tibet, appeared the website of
the NGO Free Tibet Campaign. Today within the new website of the
Tibetan Government (http://tibet.net),
you can find several positive references to the actions of the
British NGO Free Tibet Campaign (check in: http://tibet.net/?s =%
22free+tibet+campaign%22&x=0&y=0). How can
anyone may say we were not the peacefull path and still include the
website of the movement in the related links?
When, after 1988, the Dalai Lama recognized the Bönpa as the fifth
Tibetan Vajrayana lineage of teachings, it showed a bias existing
previously in the monasteries and Tibetan government. This lineage
had not been recognized in the original Tibet due to political and
religious issues. But now that the situation is different, the
recognition of Bonpos became interesting for the Tibetan Government
in Exile, as it brings them to the struggle for Tibet.
We could say that, by encouraging a non-sectarian vision with regard
to five Tibetan lineages, the Dalai Lama could be totally favorable
to religious diversity (Buddhist or not) and even inter-religious
dialogue. But what about the controversial issue of the practice of
the Protector Dorje Shugden?
Dorje Shugden is a deity of Vajrayana, especially of
the Gelugpa school, where he is seen as a Dharma Protector and the
incarnation of Lama Dragpa Gyaltsen of Drepung Monastery, a
contemporary of the 5th Dalai Lama (1617-1682). Shugden is a Dharma
Protector of the Sakya and Gelugpa, venerated for over three hundred
years. The Shugden controversy arose in the late 1970s, when the
current Dalai Lama started to speak out against the practice, and
this was intensified in 1996, when he published an "explicit
ban", suppressing the practice within the Tibetan exile
community and considering Shugden as a non-illuminated and a being of
darkness, a "spirit of the dark forces."
The vehement prohibition of the practice by the Dalai
Lama (although it was presented as "advice" - see:
http://tibet.net/2008/06/05/his-holiness-the-dalai-lamas-advice-concerningdolgyal-/)
- and subsequent discrimination and violence by Tibetans in exile to
their practitioners, lamas, laypeople and even children, is
something unacceptable in a democratic and secular world who seeks
peace, let alone to Buddhists who have non-violence as one of its
basic practices. The Tibetan government in exile officially
positioned itself, favoring the opinion of the Dalai Lama:
http://tibet.net/2007/07/10/statement-by-the-cta-on-shugdendholgyal-followers-from-tibet/.
The Lama Geshe Rabten made the following
observations: "The Dalai Lama remains
the temporal leader of Tibetans in exile, but is no longer undisputed
Their spiritual guide." Others claim
that such "discrimination against the
deity" is illegal according to the
Tibetan Constitution, the Indian Constitution and the Universal
Declaration of Human rights.
The origin of the Dorje Shugden's practice is involved in a political
dispute in the period of the 5th Dalai Lama. So there is no religious
reasons for the practice to be banned, but only political reasons,
power controversies - something temporal and impermanent, at which
should not be given much emphasis. It seems that the Dalai Lama and
his staff do not tolerate any opposition and that's nothing
democratic. He only recently has abdicated your tasks as leader of
the Tibetan nation because he felt the pressure of youth born in
exile, a youth that looks things from another perspective, most
modern and comprehensive. But the ban on Shugden practice still
stands.
In fact, despite the controversy over Tibet be
totally independent from China before the invasion or not, the fact
is that its annexation was facilitated by their government be very
fragile and not have promoted in hundreds of years, significant
social improvement for the vast majority of miserable people. This
failure was very well used by Communist China in time to justify the
invasion. However, this does not justify the violation of human
rights and the death of nearly a third of the Tibetan population. And
what the Dalai Lama and his staff were able to do today for the
oppressed Tibetans? Virtually nothing, except an exile that transfers
inert government prior to northern India.
Now, the Dalai Lama said to have abandoned the idea of independence in favor of autonomy for Tibet. I think he should go further. What I propose to support is an independent or autonomous Tibet, but totally secular and governed by the Tibetan people, not by Lamas or the Chinese government. Thus, Buddhism in Tibet would return to the original status: religious practice without direct connection to the policy, where each lineage would have the full freedom to develop and expand itself.
Now, the Dalai Lama said to have abandoned the idea of independence in favor of autonomy for Tibet. I think he should go further. What I propose to support is an independent or autonomous Tibet, but totally secular and governed by the Tibetan people, not by Lamas or the Chinese government. Thus, Buddhism in Tibet would return to the original status: religious practice without direct connection to the policy, where each lineage would have the full freedom to develop and expand itself.
Currently, the Tibetan community around the world goes divided
because of arbitrary decisions: the unilateral decision of the Dalai
Lama of giving up the goal of independence for Tibet without
consulting the government or the Tibetan people, the biggest
stakeholder; his inability to meet the declared commitment to
democratize the Tibetan government; his acquiescence to censorship of
the press and the repression of freedom of expression, the ruthless
suppression of freedom of religion by prohibiting the Shugden's
practice just for political reasons.
However, what else should surprise any one who defends the Lay State
regarding the Tibetan issue is that the very nature and function of
the Dalai Lama in the Tibetan government transforms it into a feudal
theocratic system - with its endemic mixing of religion and politics,
its influence of religious ideas in government policies, its deep
confusion about the roles of religious leader and head of state, and
its retrograde view of the position of the Dalai Lama as the
"God-King" or "Living Buddha" in Tibet.
If the Tibetan Government in Exile is considered a
democratic and laic government, then, the ban on Shugden's practice
beyond the walls of the Gelugpa monasteries is an affront to
religious freedom. The prohibition of the practice can not
extrapolate the religious atmosphere of the monasteries and to appear
on the official website of the Tibetan Government, because that means
the Government supports the ban, burying any laic impartiality. There
are two measures and a weight. If the Tibetan Government in Exile is
not considered a secular government, then, is not democratic and we
can not support it in any way. The Tibetan in Exile Constitution was
removed from the current official website of the Tibetan government,
but can be accessed here:
http://www.servat.unibe.ch/icl/t100000_.html.
Here, it remains clear that the Tibetan constitution provides freedom
for religious and stands according to the Universal Declaration of
Human Rights and the provisions of the UN. Furthermore, it considers
that the future free Tibet would be a Federal Democratic Republic.
Now that the Dalai Lama has abdicated his duties as a
political leader and remained with religious functions only, the
Tibetan Constitution was changed, but these changes even makes it
less laic (see:
http://www.thetibetpost.com/en/news/international/1728-new-changes-to-the-constitution-of-tibet-after-his-holiness-decision-).
The path to follow should be other, the complete laicism.
Where was it all the money applied in the European "Free Tibet"?
For decades, support groups and organizations throughout the West
raised money for the Movement "Free Tibet". From donations
from governments to promote bottoms, stickers, bags and caps, by
organizing concerts, dinners and exhibitions, and through any other
fundraising device imaginable, these organizations continue to raise
large amounts of money for what most Western benefactors believed to
be the goal: a free and independent Tibet. But is not that what the
Dalai Lama seeks...
Moreover, it is expected of all Tibetans, wherever they live, to pay
a "tax of independence" for the Tibetan government in
exile. The record of these payments is kept in the "Green Book"
that brings every Tibetan. This book, a kind of passport-membership
to government in exile, is essential for Tibetans in India who want
an authorization to travel abroad, and those who not pay, they lose
benefits and services, and are often ostracized, risking persecution
and exile from his own community. The Tibetan government also
receives large donations from other sources, including national,
private governments of many countries, charities, companies and many
other types of organizations.
The funds raised from the "tax of independence" and all
these other fundraising activities are not used for the support or
relief of the Tibetan community. The majority of funds for the relief
of refugees, for the fatherless, education, health care and
hospitals, are obtained directly from the Indian government, from the
main humanitarian agencies around the world, Western governments, and
private charity funds. So, what is this tax? The official text on the
website of the Tibetan Government in Exile says: "Payment of
the voluntary contribution is a condition to gain the right to vote
in parliamentary elections." But if it is voluntary, how it
may to conditionate something? And the Buddhist concept of giving,
which has its maximum expression in Dana Paramita, the Perfection of
Generosity?
So I ask: How can the Dalai Lama defend human rights and religious
freedom, while engaging himself in systematic violation of them
regarding the practice of Dorje Shugden?
How can he defend governments, democratic values and principles,
operating in exile the same kind of autocratic theocracy of ancient
Tibet?
How he can continue to charge the "tax of independence" and
receiving donations via "Free Tibet", if he has
unilaterally abandoned the idea of Tibetan independence years ago?
Another attitude from Dalai Lama which displeased me greatly relates
to his statements on homosexuality. As a gay (and Buddhist)
convinced, I can not agree with them.
http://espiritualidadeinclusiva.blogspot.com.br/2012/08/o-buda-gay-um-estudo-amplo-sobre-visao.html),
I presented the contradictory statements of the Dalai Lama:
"In a 1994 interview, he said: “If anyone comes to me and
asks whether homosexuality is good or not, I'll ask: 'What is your
companion's opinion?' If both agree, then I think I would say 'if two
males or two females voluntarily agree to have mutual satisfaction
without implication of harming others, then it is good.'”
However, in his book 'Beyond Dogma' (1996), he states, “A sexual
act is deemed proper when the couples use the organs intended for
sexual intercourse and nothing else ... homosexuality, whether
between men or between women, not is improper in itself. What is
improper is the use of organs already defined as inappropriate for
sexual contact.”
The Dalai Lama said that before he was unclear about whether a
relationship even non-abusive sex and mutual agreement would be
acceptable within the general principles of Buddhism. When having
difficulty in imagining the mechanisms of homosexual sex, saying that
nature had arranged male and female organs "in a way that is
very suitable... same-sex organs can not function well", the
Dalai Lama has repeatedly said to the LGBT groups he can not rewrite
the texts. The same thing say fundamentalist priests and Christian
pastors on biblical texts.
In 1999, in an interview with Alice Thompson, he declared
emphatically: "They want me to tolerate homosexuality. But,
I'm a Buddhist and, to a Buddhist, a relationship between two men is
wrong. Some sexual behaviors in marriage also are wrong.",
talking about masturbation and oral sex. He also said that "If
a person has no faith, is a different matter"... "If two
men really love each other and are not religious, then, is OK with
me." A modern discourse of exclusion? After all, what the
Dalai Lama makes clear is that if LGBT people want to be as they are,
but are not Buddhist religious, all OK. The encouragement is that it
is not the word of all Buddhists - teachers, monks and lay people -
in the world.
(...) Once the Theravada Buddhist monk Ajahn Brahmavamso wrote for
the West Australian newspaper, responding to an article published
there, where the Dalai Lama was quoted as saying that homosexuality
was immoral. Here's what he wrote to the newspaper:
Dear Sir/Madam,
The Dalai Lama was out of line when he said
(according to your article in the West, April 15, Page 7) “if you
are a Buddhist, homosexuality is wrong. Full stop.” The Dalai Lama
is not the ‘Pope’ of Buddhism and, charming as he often is, he
sometimes gets it wrong. (...)
The greater majority of Buddhists throughout
the modern world are inspired to learn that the Buddha certainly did
not discriminate against homosexuality. The core teachings of
original Buddhism clearly show that it is not whether one is
heterosexual, homosexual or celibate that is
good or bad, but it is how a person uses their sexual orientation that makes for good or bad karma. (...)
good or bad, but it is how a person uses their sexual orientation that makes for good or bad karma. (...)
So the fact is that the Buddha, and therefore
Buddhism, embraces gays and lesbians and transsexuals with equity and
respect. Too long has religious bigotry caused suffering to minority
groups in our society. All religions should be more loving. Full
stop!
Ajahn
Brahm"
Several masters of Tibetan Buddhism have been
speaking favorably to the homosexual issue, which is further evidence
that the statement of the Dalai Lama is just an opinion, not a
decree.
In conclusion, the reasons that lead me to move away
from Free Tibet Movement and now to announce my disconnection
definitively, starting an activism on behalf of human rights of the
Tibetan people in the secular sphere, are:
- I'm a laicist and I prefer a secular democracy for Tibet - independent, autonomous region or whatever it is. I do not agree with a "Buddhist theocracy", if you allow me to use this term, as I do not agree with Christian, Islamic, Jewish theocracies, etc.. Also in this item, being politically laic, I disagree with the ban on the practice of Dorje Shugden by the Dalai Lama for clearly political reasons. I'm not a practitioner of Dorje Shugden, but I sympathize with their adherents, as I symphatize with the supporters of any peaceful worship suffering discrimination.
- The insult to the Tibetan human rights by the Chinese government since the annexation of Tibet is really very serious, but non-laic attitude of the Dalai Lama and his staff contributes to worsen the situation, which looks like a quarrel of power, when in fact, involves the death of thousands of miserable, neglected (for both sides) and innocent people.
Having said that, I am definitely leaving the global movement known
as "Free Tibet", supporter of the Dalai Lama and his
political vision which continues to promoting "Buddhist
theocracy" (?), and I keep defending the human rights of the
Tibetan people in a laic way, without religious bias, but with
emphasis on the preservation of human life, culture, religion and
Tibetan language. The blog of "Free Tibet - Brazil" will be
closed, but not deleted. And with that, I still buddhist!
Paulo Stekel
(Author, journalist, musician, ex-coordinator of the Free Tibet Movement - Brazil, coordinator of Movement “Espiritualidade Inclusiva” [Inclusive Spirituality])