quinta-feira, 20 de março de 2008

Lama Padma Samten fala sobre o Conflito no Tibet


Queridos todos,

Nós budistas estamos aspirando que haja uma solução pacífica para os recentes conflitos no Tibete. Esses eventos me lembram os anos 60 e 70, quando nós tivemos uma repressão muito grande também aqui no Brasil. Na medida em que o governo militar estabeleceu um regime de exceção, no qual a opinião da população não importava, sempre que a população se manifestava de algum modo havia um temor, um verdadeiro medo por partes das autoridades.

Agora, quando eu vejo as notícias, quando vejo as imagens que vêm do Tibete, me vêm à mente essas lembranças. É como se eu estivesse vendo nos chineses, os militares brasileiros dos anos de 60 e 70: um regime fechado, no qual as pessoas tinham grandes dificuldades de expressar suas opiniões. Era um tempo em que falar em paz ou anistia era uma grande subversão.

Quando eu vejo os monges tibetanos, pacificamente, manifestando o que eles acham melhor par o seu país, sua cultura, seus parentes e para o budismo, eu vejo o medo dos chineses de que, repentinamente, a população ache que possa ter opiniões, possa ter idéias. Não só as populações tibetanas dentro da China, mas também outras minorias poderiam eventualmente começar a se manifestar. Eu acredito que há uma tensão desnecessária.

Vocês observem o que aconteceu no Brasil: à medida que nós fomos liberando essa veia autoritária, esse processo autoritário, isso custou susto para muitas pessoas e para os militares também, mas o Brasil melhorou. Hoje nós somos capazes de expressar nossas opiniões sem sustos. Somos capazes de viver conflitos de opinião. Chegamos até mesmo a depor um presidente, sem que houvesse realmente um rompimento da ordem pública.

Nós podíamos rezar pelos chineses, para que eles pudessem passar por esse período de tremor de forma digna. Rezar para que eles não se valessem da violência, que abandonassem esses meios negativos e que pudessem acolher. Se os tibetanos são chineses, como eles consideram, porque não podem expressar suas opiniões? Que seja permitido aos tibetanos expressar suas idéias.

Na verdade, os governos se legitimam por sua capacidade de acolher a opinião do povo e expressar isso da melhor forma. Eu acho maravilhoso que os tibetanos tenham essa coragem, tenham essa disposição de se manifestar e expressar claramente o que eles aspiram. Do mesmo modo, eu aspiro que o governo chinês manifeste a coragem de acolher, conversar sobre isso e encontrar a forma adequada de resolver essas tensões, que são, na verdade, tensões mínimas.

O movimento dos monges é um movimento pacífico. A índole do povo tibetano é pacífica. Sua Santidade, o Dalai Lama, aspira o benefício de todos os seres. Neste momento, eu gostaria de pedir a todos vocês que dediquem suas práticas e seus pensamentos à longa vida de Sua Santidade, este grande mestre budista, um mestre da Paz, independente de sua condição de monge budista, completamente respeitado por todas as tradições religiosas, prêmio Nobel da Paz em 1989. Que nós possamos ter em mente essa obra extraordinária que ele tem feito e este exemplo de grande qualidade.

Em todos esses anos, desde a anexação do Tibete pela China, ele tem desenvolvido sempre uma atitude pacífica. Ele sempre se refere às autoridades chinesas como seus amigos de amanhã. Ele não desenvolve nenhuma animosidade, nenhuma hostilidade. Para os budistas seria muito estranho desenvolvermos hostilidade em relação aos nossos adversários, porque aqueles que lutam contra nós, que nos trazem grandes dissabores, grandes desafios, são nossos professores. É isso que Sua Santidade tem nos ensinado.

Eu aspiro que não nos falte essa compreensão; que não geremos sentimentos negativos, que não tornemos nosso coração apertado e excludente. Isso seria uma tristeza para o nosso grande mestre, que é Sua Santidade, o Dalai Lama. Nós não deveríamos permitir que a ação negativa de alguns tornasse o nosso coração negativo também. A maior batalha, a maior dificuldade, se dá dentro da nossa mente, de tal modo que nós possamos nos manter estáveis, lúcidos, sempre praticando as quatro qualidades incomensuráveis de Compaixão, Amor, Alegria e Equanimidade, em todas as direções.

Agora eu vou fazer a prece das Sete Linhas, aspirando que Sua Santidade mantenha a estabilidade, que os tibetanos tenham a coragem de seguir manifestando de um modo equilibrado e pacífico as suas opiniões e conquistem um espaço em que suas opiniões importem e que as autoridades chinesas conquistem a coragem de dialogar, de entender as opiniões de seus próprios cidadãos. Peço a todos que se unam a essa prece, porque ela tem poder. Com certeza, Guru Rinpoche, o protetor do Tibete, vai ajudar a todos. Peço que os praticantes de todos os CEBBs dediquem suas práticas e façam acumulação do mantra de Guru Rinpoche, aspirando uma resolução elevada para os fatos que nós estamos vivenciando.

Muito obrigado!

Lama Padma Samten

8 de março de 2008

Viamão, Rio Grande do Sul


Prece de Sete Linhas


HUNG OR DJEN IUL DJI NUB DJANG TSAM
HUNG

Na fronteira noroeste do país de Ordjen,
PE MA GUE SAR DONG PO LA
no coração de pólen de uma flor de lótus,
IA TSEN TCHOG GUI NGÖ DRUB NIEI
Você obteve o mais excelente e maravilhoso siddhi.
PE MA DJUNG NE JEI SU DRAG
Renomado como Aquele que Nasceu do Lótus,

KOR DU KA DRO MANG PÖ KOR
você está cercado por um séquito de muitas dakinis.
TCHED TCHI DJEI SU DAG DRUB TCHI
Enquanto pratico, seguindo seus passos,
DJIN DJI LOB TCHIR JEI SU SOL
Rogo que se aproxime para conceder suas bençãos!
GURU PE MA SI DI HUNG
Ó Guru Pema, conceda-me siddhis!

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