A Junta Militar continua a repressão brutal do movimento democrático
Por Miguel F. Rovira
Com a repressão dos protestos e a prisão da maioria dos religiosos e políticos que os lideraram, as forças de segurança continuam prendendo hoje os birmaneses que apoiaram a mobilização popular contra a Junta Militar.
A campanha que pretende acabar com toda oposição ao regime passa agora a prender quem tiver sido visto ou filmado pelos agentes do temido serviço de inteligência, dirigido pelo chefe da Junta Militar, general Than Shwe, desde os expurgos do fim de 2004.
Naquele ano, a luta interna pelo poder vencida pela linha-dura da Junta Militar levou à cassação e à detenção do então primeiro-ministro, o general Khin Nyunt, condenado posteriormente a 44 anos de prisão.
Também são alvo da forte campanha de repressão os estudantes e os jornalistas que colaboraram com a imprensa estrangeira no vazamento de informações e imagens da repressão, segundo moradores de Yangun.
Além da prisão de cerca de 150 membros da Liga Nacional pela Democracia (LND), o partido liderado pela vencedora do Prêmio Nobel da Paz de 1993, Aung San Suu Kyi, as forças de segurança tentam desmantelar o movimento "Geração de Estudantes 88", que organizou as manifestações de agosto contra o aumento de 500% nos preços dos combustíveis.
O "Geração 88", integrado por muitos dos universitários que participaram da revolta de 1988, desempenhou nos últimos anos o papel de oposição e promoveu uma série de campanhas de desobediência civil para desafiar abertamente a Junta Militar.
"O regime militar sabe que foram os ativistas do 'Geração 88' que passaram a liderança dos protestos aos monges", disse à Efe Naing Oo, dissidente birmanês exilado na Tailândia.
Hoje, a televisão estatal informou que o general Than Shwe está disposto a se reunir com Aung Sang Suu Kyi quando ela "abandonar sua postura de confronto". Na TV, o Governo militar afirmou que Than Shwe expressou a Gambari sua disposição de falar com a líder da oposição.
A maior parte dos mosteiros de Yangun continua vazia. Nas ruas, ainda é notável a presença de militares e a população teme represálias e as incessantes batidas dos agentes que mostram aos moradores as fotografias de pessoas procuradas.
"Por trás da fachada de normalidade nas ruas, há muito medo. Milhares de pessoas não se atrevem a sair por medo de serem presas", disse um dissidente birmanês à Radio Free Asia.
Muitos dos monges veteranos e noviços que foram libertados após ficarem detidos por vários dias tentam sair de Yangun. Enquanto isso, as forças de segurança mantêm controle ferrenho em volta dos maiores mosteiros.
Em alguns mosteiros, como o de Magwe, em Pakokku, de onde partiram as primeiras manifestações pacíficas, os monges se revezam a cada noite para ficar atentos a novas e eventuais invasões por soldados.
Os militares estimam que prenderam cerca de 6.000 pessoas (entre elas, mais de 1.000 monges) desde o dia 26, quando começou a repressão às manifestações, a proibição a encontros públicos e foi imposto o toque de recolher em Yangun e Mandalay, as duas maiores cidades do país.
Pelo menos 16 pessoas morreram, entre elas um repórter japonês, apesar de o Governo admitir apenas dez mortes enquanto a dissidência calcula o número em mais de 200.
Hoje, fontes do LND disseram ao jornal israelense Ha'aretz que o número de monges mortos pode chegar a 300. Algumas das vítimas teriam sido enterradas vivas, enquanto os corpos de outros foram queimados em áreas abertas a 25 quilômetros de Yangun.
As mesmas fontes acrescentam que mais de 160 dos dirigentes do partido foram presos em diferentes pontos do país. Mesmo assim, o LND pensa em continuar com as manifestações e protestos por mais 10 ou 15 dias.
O Ministério de Informação, sob o comando do general-de-brigada Kyaw Hsan, dirige a campanha contra os jornalistas que colaboraram com a imprensa estrangeira, cuja entrada no país foi proibida.
As manifestações em Mianmar começaram em 19 de agosto em protesto contra a alta dos preços dos combustíveis e se transformaram em um desafio à Junta Militar após a violência sofrida por monges budistas nas mãos de soldados e policiais.
Fonte: EFE
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