domingo, 23 de setembro de 2007

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Monges budistas lideram uma maciça onda de protestos contra o regime militar em Mianmar

H
á sete dias, milhares de monges budistas da tradição Theravada estão liderando manifestações de protesto contra a junta militar no poder há 45 anos em Mianmar, a antiga Birmânia.

No sábado, 22, a histórica líder da oposição birmanesa e Prêmio Nobel da Paz, Aung San Suu Kyi, mantida em prisão domiciliar pelo regime há 12 anos, saiu pela primeira vez em muito tempo da sua residência e cumprimentou, em lágrimas, os bikkhus que marchavam em frente à casa dela.

De forma inédita, os monges convidaram explicitamente a população a apoiá-los manifestando contra o regime e participando das vig
ílias de oração na entrada de todos os lares, e recusam-se a realizar cerimónias religiosas para funcionários e colaboradores da junta militar, além de marchar com as tigelas de esmola viradas para baixo em sinal de rechaço às ofertas desta última. No domingo, 23, pela primeira vez uniram-se aos protestos também uma centena de monjas. A concentração de domingo em frente ao Pagode de Ouro de Swedagon, principal símbolo do Dharma no país, foi a maior desde o início dos protestos, tendo juntado mais de 20.000 pessoas, metade das quais monges e monjas.

Os protestos começaram cinco semanas atrás, em 19 de agosto, na segunda maior cidade de Mianmar, Mandalay, no Norte do país, como revoltas espontâneas da população contra um aumento vertiginoso do custo do combustível decidido pelo regime, que agravou dramaticamente a situação de um dos povos mais pobres do planeta ao fazer disparar os preços dos transportes internos e de muitos gêneros de primeira necessidade. Inicialmente, desfilaram apenas uns poucos cidadãos descontentes que foram alvo de uma repressão despiadada, com mais de 150 detenções e espancamentos violentos por parte da polícia.

Mais tarde começaram a ir às ruas os monges e, em 5 de setembro, o exército disparou contra eles em Pakokku, ferindo vários. Para aplacar a tensão, o governo enviou 20 funcionários ao templo daquela cidade para pedir desculpas formais aos bikkhus, mas estes mantiveram os representantes governamentais como reféns durante seis horas em sinal de protesto.

Nos últimos cortejos, a maioria dos quais inundaram as ruas da capital Yangon, a oposição dos monges à junta militar alcançou seu ápice com o gesto simbólico das tigelas. A Aliança Global dos Monges da Birm
ânia, a organização que lidera os protestos, apresentou uma plataforma política clara: suas exigências são a diminuição dos preços, a libertação dos presos políticos e uma mundança nas relações do regime com a opisição.

Esta aliança entre o povo e seus filhos de manto vermelho, 19 anos depois da uni
ão dos monges com as forças democráticas que protestavam contra a ditadura militar e foram brutalmente exterminadas, está criando um sério embaraço para o regime, que sempre temeu as rebeliões e os atos de desobediência civil dos bikkhus, procurando mantê-los afastados dos assuntos políticos, pois está ciente do poder de conseguir mundaças sociais que eles têm. Há mais de 400 mil bikkhus e bikkhunis no país, chegando quase ao mesmo número que os soldados, e os monges detêm uma influência enorme sobre toda a população. A Birmânia é um país onde o Dharma encontra-se profundamente enraizado na consciência popular e, muitas vezes, até mesmo camponeses paupérrimos didivem suas míseras rações de arroz com os bikkhus.

Isto coloca a junta militar diante de uma encruzilhada: tolerar os protestos e correr o risco de ser arrasada por uma revolução democrática pacífica e nâo-violenta ou, como aconteceu com o movimento que ganhou as eleições de 1988 (as primeiras e únicas desde o golpe dos generais de 1962), tentar sufocá-la com o risco de que se instaure um novo regime de terror em massa como o que, naquela época, massacrou mais de três mil pessoas e colocou na prisão domiciliar à vencedora nas urnas, Aung San Suu Kyi.


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