quinta-feira, 27 de setembro de 2007

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Padrão de vida baixo leva população birmanesa a medidas extremas

Por Bill Tarrant

A população de Mianmar já vivia em situação precária antes de o governo dobrar o preço dos combustíveis, o que provocou inflação generalizada, e agora muitos se sentem à beira do precipício.

Num país onde mais de um quarto dos 56 milhões de habitantes vive com menos de um dólar por dia, o repentino aumento dos combustíveis, anunciado em 15 de agosto, tornou-se o estopim de uma crise que vinha se formando há tempos.

Para o diretor de escola aposentado U Sein, 82 anos, e sua mulher, Daw Nu, 80, a queda no padrão de vida virou um pesadelo.

"Minha aposentadoria mensal agora só compra duas xícaras de chá, mas antes costumava bastar para a cesta básica da minha mulher e minha quando eu me aposentei, há mais de 20 anos", disse U Sein à Reuters em maio, meses antes do aumento dos preços.

Moradores dizem que o custo de vida começou a subir depois da frustrada rebelião popular de 1988, mas disparou para valer a partir do ano passado.

"Vimos mudanças incríveis em um ano", disse Ma Ahmar, que vende comida nas ruas.

Água potável e eletricidade são itens de luxo para muitos em Mianmar, a antiga Birmânia.

"Temos de fazer fila por cerca de uma hora para trazer dois baldes de água potável do lago", disse Ko Myint Oo, morador de Dala.

Condições semelhantes alimentaram a rebelião de 1988, quando o governo repentinamente elevou o preço do arroz e mexeu no valor da moeda local, o quiate, tornando as economias das pessoas inúteis da noite para o dia.

"É desesperador", disse Sean Turnell, professor da Universidade Macquarie, da Austrália, e co-autor de um livro sobre a economia birmanesa. "A classe média está vendendo seus bens para literalmente sobreviver. As pessoas não podem sair para trabalhar porque não podem pagar a tarifa dos ônibus."

Casamento de luxo

O estoicismo das pessoas que há 45 anos vivem sob regime militar começou a acabar em novembro, quando surgiu um vídeo mostrando o suntuoso casamento que o chefe da junta militar, Than Shwe, promoveu para sua filha.

Os primeiros protestos, ainda tímidos, vieram em fevereiro, quando o até então desconhecido "Comitê de Desenvolvimento de Mianmar" pediu à junta militar que resolvesse os problemas de inflação, educação e infra-estrutura.

Mianmar era um dos países mais ricos da Ásia quando ficou independente da Grã-Bretanha, em 1945. Após décadas de desgoverno, é agora um dos países mais pobres do planeta, com uma renda per capita estimada em apenas 200 dólares.

O déficit orçamentário cresce tanto que o governo nem se incomoda em divulgar suas previsões de gastos desde o ano fiscal 2001/02.

A transferência da máquina pública para Naypyidaw, a nova capital construída nas florestas do centro do país a um custo de 300 milhões de dólares, contribuiu para dilapidar os cofres públicos. Além disso, o gasto com a manutenção do Exército, com 375 mil soldados, quase dobrou em uma década.

Fonte: Reuters


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