O regime birmanês reprime duramente os protestos e corta as comunicações via Internet
A junta militar birmanesa continuou a reprimir duramente nesta sexta-feira o movimento de protesto popular dispersando à força as manifestações e cortando o principal acesso à internet.
Após dois dias de repressão por parte das autoridades, milhares de pessoas desafiaram as autoridades e saíram às ruas Yangun.
Como na quarta e na quinta-feira, os manifestantes enfrentaram a truculência das forças de segurança, que disparavam para o alto e arremetiam as pessoas com cassetetes.
Os novos episódios de violência foram registrados principalmente próximo ao pagode de Sula, no centro da cidade. De acordo com testemunhas, as forças de segurança ordenaram por meio de alto-falantes que 10.000 manifestantes, na maioria jovens, deixassem as ruas antes de partir para a ação, atacando quem estivesse pela frente e atirando para o alto.
Os jornalistas independentes constataram a presença de milhares de pessoas nesta sexta-feira em Yangun, mas os meios de comunicação do regime militar falaram de apenas 120 manifestantes.
"Quatro grupos com uns manifestantes protestaram hoje em quatro lugares de Yangun", informou a televisão local, controlada pela junta.
"As forças de segurança foram utilizadas apenas onde foi necessário restabelecer a ordem", acrescentou.
Nesta sexta-feira, devido à brutalidade de algumas ações contra os monges, diplomatas ocidentais afirmavam que tinham informações de "diversas fontes" relacionadas a "atos de insubordinação" dentro do Exército.
"Soubemos que alguns militares teriam se recusado a obedecer as ordens e que outros teriam até se colocado ao lado dos manifestantes", disse um diplomata.
Testemunhas ainda em choque afirmaram como soldados birmaneses mataram na véspera oito manifestantes, abrindo fogo contra eles com armas automáticas.
Os oito mortos na quinta-feira faziam parte de uma multidão de milhares de pessoas que protestavam contra um ataque a um monastério.
"As pessoas começaram a jogar pedras em direção aos soldados", declarou à AFP uma testemunha.
Durante cerca de trinta minutos, a multidão desprezou os militares que pareciam, por um momento, ter entrado em pânico e começaram a atirar com armas automáticas.
O embaixador australiano em Mianmar Bob Davis afirmou que o número de pessoas mortas desde o início das manifestações era bem mais elevado que o de 14 fornecido até o momento.
Enquanto isso, a principal rede de internet do país parou de funcionar nesta sexta-feira, segundo uma autoridade birmanesa de telecomunicações que atribuiu o problema a "um cabo submarino danificado".
Uma fonte ocidental em Yangun informou que o corte teria sido ordenado pela junta que tentar impedir a divulgação no exterior de informações, fotos e vídeos sobre a repressão.
Por outro lado, vários grupos de imprensa particulares de Mianmar decidiram suspender a publicação de seus periódicos por causa do agravamento da situação em Yangun, onde a distribuição de jornais é quase impossível.
A suspensão das publicações afeta pelo menos quatro revistas do grupo Eleven Media, duas revistas do grupo Yangon Media, assim como os semanários Kamudra, Voice e Market, informou uma fonte do setor, que não quis ser identificada. A decisão seria "voluntária", segundo a fonte. A imprensa local é severamente censurada pelo regime militar birmanês.
O emissário da Organização das Nações Unidas (ONU) a Mianmar, Ibrahim Gambari, é aguardado no sábado no país. Uma sessão extraordinária do Conselho dos Direitos do Homem das Nações Unidas está prevista para terça-feira em Genebra.
Para um resumo dos antecedentes das notícias mais recentes, clique aqui.
Leia a Declaração de Suporte à luta democrática birmanesa do Colegiado Buddhista Brasileiro (CBB)
Para acompanhar os acontecimentos de Mianmar em inglês ou em birmanês:
Mizzima News (Site da oposição birmanesa no exílio, em inglês)
Ko Htike’s Prosaic Collection (Blog em inglês e birmanês)
Mr. Jade (Blog em inglês e birmanês)
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