A Junta Militar de Mianmar reprimiu hoje, novamente com violência, as manifestações de milhares de birmaneses em Yangun, encorajados pela chegada ao país do enviado especial das Nações Unidas, Ibrahim Gambari.
Nas ruas da capital, que amanheceram tomadas por centenas de soldados e com o aspecto de um campo de batalha, soavam mais uma vez os disparos efetuados pelos soldados cada vez que o povo tentava organizar um protesto.
Uma criança morreu e dois homens ficaram feridos por tiros das forças de segurança, afirmaram fontes do hospital de Kyimyidine, em Yangun, à rádio Mizzima.
Pelo menos 16 pessoas morreram desde que, na quarta-feira, o Governo militar enviou as tropas às ruas de Yangun e de outras cidades para reprimir os protestos pacíficos. No entanto, segundo a versão oficial, houve dez mortes.
Diplomatas e testemunhas asseguram que o número de mortos é muito maior e falam de centenas de pessoas baleadas no mesmo cenário em que foram praticados os massacres de 1988, quando três mil ativistas pró-democracia foram mortos a tiros.
Após inúmeros protestos, milhares de pessoas - entre dois e dez mil, segundo fontes da dissidência -, foram dispersadas hoje com tiros e bombas de gás lacrimogêneo, depois de conseguirem se unir para marchar juntos.
Centenas de manifestantes se reuniram mais tarde próximo ao mercado de Theingyi, mas as forças de segurança novamente agiram contra eles com cassetetes e armas.
Os novos protestos começaram no mesmo dia da chegada a Mianmar do enviado especial das Nações Unidas, Ibrahim Gambari, que tenta convencer a Junta Militar a por fim à violência.
Depois de chegar ao aeroporto de Yangun, Gambari se reuniu quase imediatamente com funcionários da ONU, e, segundo um comunicado oficial, viajou em seguida a Napydaw, a nova capital administrativa do país e reduto da Junta Militar, cerca de 400 quilômetros ao norte de Yangun.
Gambari, representante para Mianmar do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, não visitava o país asiático desde novembro de 2006, porque a Junta Militar lhe negava o visto.
Não se sabe se Gambari conseguirá dissuadir a Junta Militar, que é conhecida por suas atitudes controversas. A idéia é que as autoridades birmanesas renunciem à violência, libertem os detidos e escutem as reivindicações da população.
Enquanto isso, cerca de 30 monges budistas, dos mais de mil presos por incitar o povo a protestar, declararam greve de fome, para se manifestar contra a violência empregada pelas forças de segurança, informaram fontes da dissidência.
Os religiosos foram detidos durante a primeira ofensiva lançada pelos militares contra os principais mosteiros de Yangun e de outras cidades do norte do país. As prisões foram efetuadas depois que o Governo impôs toque de recolher e proibiu reuniões públicas, na terça-feira.
As mobilizações pela democracia, que começaram em 19 de agosto como um protesto contra a alta dos preços dos combustíveis, são as mais graves em oposição ao atual regime militar desde 1988, quando este se instalou.
Mianmar é governada pelos militares desde 1962 e não realiza eleições parlamentares desde 1990, quando o partido oficial perdeu para a Liga Nacional para a Democracia (LND), liderada por Aung San Suu Kyi. Este resultado foi descartado pelos generais.
Para um resumo dos antecedentes das notícias mais recentes, clique aqui.
Leia a Declaração de Suporte à luta democrática birmanesa do Colegiado Buddhista Brasileiro (CBB)
Para acompanhar os acontecimentos de Mianmar em inglês ou em birmanês:
Mizzima News (Site da oposição birmanesa no exílio, em inglês)
Myochit Myanmar (Blog em inglês e birmanês)
Mr. Jade (Blog em inglês e birmanês)
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